
A paixão pela educação é uma marca, faz parte do seu ser e o acompanha por onde anda e vai com ele. Começou por ser uma conversa sobre a ensino básico ou ensino fundamental, como convém para outros entendidos, rapidamente virou um relato sobre um passado recente. Estou em conversa com Jorge Ferrão, Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, com uma passagem breve, mas, marcante pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano. O antigo ministro fala de forma pausada e continuada, recorda os factos como se estivesse a vivenciá-los:
Há dez anos, lançámos um projeto assente em três pilares fundamentais: devolver a esperança às escolas do ensino fundamental; reactivar os conselhos de escola como espaços de participação comunitária; e cuidar dos espaços escolares, fornecendo equipamentos que atenuassem a sensação de negligência por parte do Estado. Era o possível diante de tantas vicissitudes e dificuldades.
Com o apoio de empresas parceiras, sobretudo do clube dos amigos da educação, conseguimos mobilizar milhares de carteiras escolares e, com elas, vimos o sorriso das crianças e de seus familiares regressarem aos seus rostos e corações.
Fizemos o possível dentro das nossas capacidades e possibilidades, e esse gesto simples, porém solidário, teve um impacto profundo na percepção dos próprios familiares, dos professores e dos alunos. Era o mínimo que poderia ser feito depois de décadas de algum abandono. Sabíamos que seria uma tarefa gigantesca e o melhor parceiro seriam mesmo os professores.
Escutamos milhares de familiares e professores para saber como seria possível melhorar o sector diante da escassez de recursos. Os professores, sobretudo, sentiram que poderiam dirigir suas escolas sem metas e com a responsabilidade de partilhar todas as decisões juntos dos conselhos de escola.
Lançámos, em seguida, um prémio para os melhores professores de cada província, retomando o espírito de emulação de outros tempos. Com o apoio dos parceiros, do FASE (Fundo de Apoio ao Sector da Educação) e da Parceria Global para a Educação que, generosamente, aumentaram a sua contribuição financeira, alguns professores tiveram a oportunidade de viajar para a Turquia. Era uma luz que se acendia, resultado do engajamento dos próprios professores..
Revisitamos também antigas ideias. Se antes se dizia que a escola era uma base para o povo tomar o poder, hoje acreditamos numa missão ainda mais duradoura, fazer da escola a base para o povo tomar o saber. Porque é no saber que reside a verdadeira liberdade e o futuro de Moçambique.
Ficamos devendo o estatuto da carreira docente. Valorizar o professor é essencial para que esta seja uma profissão digna e estável, e não apenas um trabalho em tempo parcial. Hoje, mais do que nunca, precisamos reafirmar que a educação começa em casa, com a família, e que nenhum outro agente deve substituí-la. É urgente retomar princípios fundamentais e reafirmar o compromisso de que Moçambique será sempre uma pátria da educação, onde o saber é instrumento de liberdade.
Estava tudo quase dito, era para fazer mais uma pergunta, seria sobre o quê? Melhor não fazer, o que ficou registado está bom de mais para ser partilhado, lido e pensado. Obrigado Magnífico Reitor Jorge Ferrão.
Eliseu Sueia
GCI – UPMaputo