Jornalismo ao pormenor

Uma conversa literária com Florentino Dick Kassotche

Uma entrevista conduzida pela escritora Flora de Ana Edson

Uma entrevista conduzida pela escritora Flora de Ana Edson

PERGUNTA 1: Qual é a tua maior qualidade?

FDK: Ser honesto. Sincero. Frontal. E bem humorado. A falar do humor – quando eu trabalhava fora de Moçambique, houve momentos em que o ambiente de serviço não era católico. Parecia que tudo conspirava contra a minha pessoa. Em contrapartida, eu andava bem disposto todos os dias. O motorista da instituição veio, certa vez, ter comigo e perguntou:

 “Não entendo como é que você está sempre bem disposto se os seus colegas fazem tudo por tudo para lhe azedar a vida!….”

 E eu lhe respondi:

 “Pablo: antes de vir ao serviço, eu tomo três comprimidos, todos os dias. Depois disso, fico imune a todas as provocações.”

 “Comprimidos? Está a dizer-me que há medicamento contra tudo o que lhe aprontam?”

 “Sim, há.”

“Dê-me a receita, que eu quero também.”

“Vai a Farmácia e peça um comprimido chamado PACIÊNCIA e o outro se chama HUMOR.”

 “Não brinque comigo, Chefe!”

 “O terceiro é a soma do CONTEXTO do dia, mais um pouco da INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e mais alguns litros da inteligência intelectual….”

 “Você me venceu! Agora entendo por quê os seus colegas lhe combatem. É mais inteligente do que eu imaginava. Você faz sombra a muitos….”

E contribui para Pablo ser paciente para com as situações; ter Humor suficiente e sorrir mesmo nas adversidades, com o objetivo de desarmar o adversário.

P2: E qual é o teu maior defeito?

FDK: Tenho dois defeitos que ainda não consigo vencer. 1. Confio demasiadamente nos outros. 2. Ajudo sem limites aos demais, e como diz minha mulher, “dou aos outros até aquilo que não tenho”. E como resultado, recebo pontapés no traseiro e na hora inesperada. O bicho chamado Homem é complicado. Em 1997, um colega pediu-me emprestado 400 Meticais. Nessa altura, essa quantia era astronómica. E eu não tinha esse dinheiro. Tive que falar com uma amiga minha dinamarquesa e ajudei o colega. Sabes que ainda não recebi de volta, até hoje, esse dinheiro!!!! Imagina os juros desse taco!!!!! Ele esqueceu-se. Eu também faço questão de que me esqueci. Outro exemplo: Quando fui trabalhar na Espanha, aluguei a minha casa a alguém que não tinha onde ficar na altura. Combinamos uma renda simbólica, que eu queria lhe ajudar. Caramba, sai prejudicado no negócio. Dos cinco anos que ficou na casa, eu diria que pagou “xis” meses e o resto era promessa, promessa e promessa. Desde que voltei, essa pessoa desapareceu da circulação. E nunca me dei ao trabalho de lhe procurar e cobrar…..Como podes ver, saio sempre a perder com essa minha mania de querer ser bom para todos. Vou tentar ser um pouco egoísta e mauzinho, para ver se venço esses defeitos de ser um bom samaritano.

P3. Qual é a coisa, para ti, mais importante num homem?

FDK: Ser visionário, firme, charmoso, simpático, inteligente, requintado, confiante. Ter poder de mando, carácter, humor que baste. Em suma: a coisa mais importante mesmo é TER e SER algo que vale a pena e que seja diferente dos demais.

P4. E numa mulher?

FDK: Primeiro aspecto: beleza interior combinada com a exterior. Segundo: saber ser-se. Terceiro: partindo de princípio de que todos somos produtos, uma mulher deve saber vender-se sem cair no ridículo. Detesto moças que logo num simples encontro casual e com uma pessoa desconhecida, não se importam de desnudar a alma inteira e pintar o céu de lamúrias extravagantes, e por fim, pedir dinheiro para comprar credilec ou uma contribuição para comprar extensões – esses cabelos postiços importados da China, Tailândia, Brasil….Adoro o natural nas mulheres. Ser elas e simplesmente elas. Há extensões que glorificam a beleza, mas olha para a nossa mulher do dia-a-dia, com cabelos a mais nas cabeças… Que elas sejam naturais como o mar, a água, o céu. Detesto as que se esforçam em ser a imagem de outrem. Outra coisa que me intriga neste nosso Moçambique é ver uma mulher casada pedir dinheiro a um amigo, que é para organizar a festa de aniversário do seu filho. Porquê pedir a um amigo e não planificar com o marido? Porquê fazer festa com dinheiro de dívidas ou de contribuições forçadas de amigos se não se tem condições para o efeito? Vive-se nas aparências extremas. É mesmo para perguntar: Quo vadis, Moçambique? Quo vadis, África?

P5. O que é que mais aprecias nos teus amigos?

Camaradagem. Risos e gargalhadas sinceras que recordam tempos indefinidos. Um amigo é mais que uma arma para nos libertarmos das mágoas da vida. Um amigo sincero é mais que um Dicionário, que nos faz esquecer palavras difíceis da vida. Um verdadeiro amigo é o prolongamento do Eu. E esse amigo que me seja sincero, honesto, frontal. Nada de punhaladas por detrás…

P6. Qual é tua actividade favorita?

FDK: Escrever. Sonhar. Imaginar. Confabular. Amar a beleza que dá sentido à vida.

P7. Qual é a tua ideia de felicidade?

FDK: Paz interior e sem preocupações negativas. Felicidade é simplesmente sentir-se bem e com sonhos por percorrer. E coisa engraçada é que a felicidade mora no interior de nós mesmos. Para que ela se mantenha intacta, há que saber lidar com ela. Há que saber protegê-la do exterior hediondo.

P8.  E o que seria a maior das tragédias?

FDK: Perder a noção do EU fundido na Sociedade.

P9. Quem gostarias de ser, se não fosses tu mesmo?

FDK: Todo o artista não pode ser outra coisa senão ele mesmo. Eu não posso querer ser outra coisa para além do que sou. Se tivesse que ser, que fosse eu e eu e eu. Se tiver que ser, que seja eu e eu e eu. Gosto do que sou. Gostaria de ser eu mesmo. Que na próxima reencarnação, que o Fazedor dos Homens não se esqueça de me moldar à medida do que sou, com devidas alterações que queira introduzir, mas sem retirar a ESSÊNCIA de Mim, assim como tu me conheces.

P10. E onde gostarias de viver?

FDK: Eu sempre vivi onde devia viver em cada momento da minha vida. Adapto-me como os pássaros e a água. Quero ser água, este líquido que pode habitar num corpo de uma mulher ou num copo de barro. Sendo água, até podia viver no perfume que pões, no baton que aplicas… Ahahahah, não tenho escolhas, eu vivo consoante as oportunidades que a vida me abre; vivo em função de cada sonho. Se insistes mesmo em saber onde eu GOSTARIA de viver, a resposta é complicada: gostaria de viver numa casa oficial de hóspedes e acordar todos os dias sem a preocupação de pagar água e luz; sem medo que alguém assalte minha casa, meus haveres, meus sonhos. Mas vivo onde vivo e estou muito bem comigo mesmo e com a minha família nuclear.

P11. Qual é a tua cor favorita?

FDK: Depende dos meus estados de espírito para que cada cor diga-me algo. Há dias em que sou do PRETO da noite. Preto que tem a magia de negro da elegância. E há dias em que sou do VERDE – o da esperança, da natureza, das flores…E também do VERMELHO quando posto num corpo de uma mulher. Pica o olho, aliás, realça a beleza feminina. Não tenho cor favorita. Tenho cores favoritas, que são do arco-íris, somando-se o Preto e o Castanho, que se fundem na cor que dizem que sou – a cor do PECADO.

P12. E a flor?

FDK: A minha flor preferida é uma que se movimenta, balança ao compasso do vento e exala um aroma que me inspira a vida. Mas haverá mesmo uma flor que não seja uma MULHER?! Gosto das rosas, stefanies, samálias, zis, floras que conseguem extasiar o poeta em mim. São nomes de minhas flores preferidas. Alguém tem que dar nome às coisas. E eu baptizei minhas flores com esses nomes corriqueiros e também exóticos.

P13. E a ave?

FDK: Gosto das aves que levantam voos, mas sabem o seu ninho. A preferida é aquela que habita comigo desde há séculos, no meu eu passional.

P14. Os teus actores/actrizes preferidos?

FDK: Isso de ter actores e actrizes preferidas é para pessoas sedentárias. Os meus e as minhas dependem donde estou em cada momento e das cargas magnéticas pensamentais que me atravessam nesse instante. Sabes, amiga, a vida oferece, em cada minuto, novos horizontes, novos gostos, novas paixões, novas visões, enfim, novo olhar ao exterior que nos circunda. Nunca se tem actores preferidos eternos, senão as do momento. Gostava, quando era jovenzito, do Carlo Pedersoli aliás Bud Spencer e do seu companheiro de aventuras, o Mario Girotti aliás Terence Hill. Adoro os filmes de artes marciais de Jet Li. A negra Kerry Washington é uma das que aprecio e não perco nenhum seriado de SCANDAL, em que ela faz o papel da Olivia Pope. Gostei também, e muito, de ver a Mira Sorvino no filme AT FISRT SIGHT. Vi tantos filmes na minha vida e é-me difícil eleger actores preferidos. Sou de preferências ocasionais, temporais. Tenho medo de armazenar no meu precioso disco duro (Memória) informações que não me dão alguma mais valia para a minha existência térrea. Sempre que posso, elimino programas tóxicos, informações supérfluas.

 

P15. E os filmes de que mais gostas?

FDK: Gosto de todos os filmes, independentemente de géneros, que me fazem bem a alma, e atiçam o meu lado intelectual. Mas os melhores filmes, ainda não editados oficialmente, são os que assisti nas ruas da Grande Europa, com desempregados nacionais pedindo mantimento aos possibilitados; mulheres formadas e refinadas vendendo prazer, sem se importarem com a raça, cor, nacionalidade, status social dos clientes, ….Infelizmente, essa realidade não pode atravessar fronteiras, que a imagem do Grande Continente precisa de ser preservada. E lembras quando fazíamos longas filas para ver filmes indianos? E houve também a fase de filmes soviéticos, alemães. E agora, os nigerianos (com o seu black magic bem explorado) e sul-africanos estão na moda, pelo menos para uma parte da turma feminina. Gosto dos filmes que não precisam de Directores, produtores…, senão actores reais e vivenciais. A estes, assisto com o maior dos prazeres.

 

P16. Quem são os teus heróis de ficção?

FDK: O que me vê à memória, agora e já, é o Peter Pan, um personagem fictício criado pelo escritor James Barrie. Por vezes penso que muitos de nós somos Peter Pan (crianças que nunca crescem no olhar dos outros – os mais velhos), vivendo no País de Nunca Jamais (ou a TERRA DO NUNCA), cheio de piratas e crianças perdidas. Só que o Peter Pan em nós não odeia os adultos, como esse personagem de ficção o faz. Os Peter Pan do meu país estão em harmonia indubitável com os adultos, nossos mentores da vida.

P17. E as heroínas?

FDK: A minha heroína de ficção está na minha cabeça e ainda não tem nome. Não se parece com nenhuma das inventadas por outros. Não posso a descrever, que não iria convencer o caro leitor que a minha heroína é desse feitio e estilo, carácter e temperamento. E os atributos da minha heroína são mutáveis, alteráveis, inconstantes. Como já te disse, não sou de coisas MADE IN.

P18. A tua música favorita é…

FDK: O som do vento. O chilrear dos pássaros. O sussurro passional de uma amada. Os estalidos dos dedos num ventre sedento. O grito provocado por um orgasmo. A respiração ofegante de um corpo humano deitado na horizontal. A fricção de dois corpos que se querem Um. A gargalhada de uma pessoa especial. A música, minha amiga, está no ar, está em nós. Há pessoas que caminham, fazendo exercícios, com auscultadores nos ouvidos, escutando músicas previamente selecionadas. A melhor música está no ar-vento que se atravessa, nos passos, na respiração. Já escutaste o rugir das ondas do mar? Já te concentraste no som que se produz da conversa entre o capim e o vento? A minha música preferida sai da soma dessas melodias inomináveis, inimagináveis, possíveis.

P19. E os músicos de que mais gostas?

FDK: Eu não tenho músicos de que tanto gosto. Admiro um e outro e logo passa. Não gosto de me apegar a coisas que podem mudar, e o tempo tem provado que não há gostos eternos. Há músicos de que tanto gostava no passado: Kenny G, Kenny Rogers, Dolly Parton, Joe Cocker, Julio Iglesias, Roberto Carlos, Roberta Miranda, Salif Keita, Baby Face. Na minha juventude, escutávamos Madonna, Caetano Veloso, PJ Pwers, Dire Straits, Barry White, Anita Baker, Frank Sinatra, Donna Summer, Judy Boucher, Tony Braxton, Soul Brothers, Rod Stewart, Roxette, Milli Vanilli, Tsala Mwana, Stevie Wonder. Mas o tempo foi dando-me outras referências. Vivendo na Espanha, aprendi a gostar da Shakira, Malú, Pablo Alboran, Melendi, Pastora Soler, Alex Ubago. Viajando por Cuba, ouvi pela primeira vez e gostei do Pablo Milanês – a sua música Yolanda. Na Austrália, apaixonei-me pelas canções da Kylie Minogwe, Tina Arena, Natalie Imbruglia. Do Brasil, chegaram-me sons de todos aqueles que todos sabemos…mas, há que sublinhar o Lindomar Castilho, a Maria Bethânia, Negra Li, Ivete Sangalo. Da Itália, recordo-me de nomes como Laura Pausini, Andrea Bocelli, Luciano Pavorotti. E como podes te aperceber, o tempo é muito malandro e incute em nós desafios em cada estação vivencial. Até hoje ouço Rihanna, Luther Vandross, Aretha Franklin, Tina Turner, Tracy Chapman (lembras quando a BBC acordava-nos com a música dessa cantora?), Justin Bieber (gosto muito da musica “sorry” deste jovem cantor…), Diana Ross (a sua famosa Missing you), Marvin Gaye, Michael Jackson, Janet Jackson (adoro ouvir “let´s wait awhile”), Lionel Richie, Barbara Kanam, Erykah Badu, Sara Tavares, Awilo Longomba, Koffi Olomide, Mafikizolo, Jennifer Hudson. Tenho colecção de música chinesa, indiana, etíope, árabe, java, japonesa. A partir de todos esses nomes que mencionei, achas que sou mesmo capaz de dizer que gosto apenas deste ou daquele?! Não, eu sou de muitos músicos, de muitas melodias. E aqui, na Pátria Amada, há melodias que encantam o meu ouvido artístico, e ouço com maior prazer os seguintes: Roberto Chitsondzo, Stwart Sukuma, Esaú Meneses, Mingas, José Mucavel, Vladmiro José, Matilde Conjo, Lorena Nyate, Liloca, Lizha James, Dama do Bling, Moreira Chonguiça, Gabriela (gosto muito da “tempestade”), Bob Love, Mr. Bow, Júlia Duarte, Didácia,…e há muitos talentos no meu país que não cabem nesta entrevista. Em Angola, sou fã de Pérola, Yola Araújo, Matias Damásio, Ary, Jandira. Gostaria que a Pérola lesse este Jornal e soubesse o quanto lhe admiro como mulher e cantora. Ahhh…minha esposa vai ficar com ciúmes, mas quem está aqui a falar é o escritor… tenho imunidades literárias. No Gana, escuto com frequência a Gyakie e Bisa Kdei. Na Nigéria, a minha favorita é a Tiwa Savage. Em suma, não tenho um cantor fixo que habita a minha mente musical. E nem quero ser escravo de quem quer que seja.

P20. Quem são as tuas heroínas na vida real?

FDK: São todas as mulheres que amei, que me amaram e as que ainda me amam. E a número um é a minha mãe. E a número dois é aquela que faz parte de mim neste momento – minha esposa, convivendo com este escritor em mim, cheio de si mesmo. E a número três é a minha filha que já sabe ser ela mesma perante dificuldades. E a número quatro é uma leitora invisível que daria a sua vida por mim. E a número cinco nem sei quem é.

P21. E os heróis?

FDK: Os meus verdadeiros heróis da vida real são: meu pai, meus tios, meus professores, meus amigos do coração (que cada um sabe de quem me refiro), meus filhos, que já sabem indagar a vida com pitadas de loucura. Outro dia, meu filho mais novo perguntou a sua mãe, que por coincidência é minha esposa (não te rias, que podia ser mãe do meu filho e não ser minha esposa)…bem, continuando, meu filho perguntou a sua mãe: “Mama – se tu és minha mãe, este é meu pai – isso significa que cada um de nós tem pai e mãe. E quem são a mãe e pai de Deus?” Pulei de alegria só por saber que ele já tem dúvidas de gente inquieta. O puto é meu herói. Já faz perguntas que eu gostaria de fazer e que o religiosamente correcto me trava o atrevimento. Quantos anos tinha miúdo? Nove.

P22. Qual é a tua palavra favorita?

FDK: Uma palavra, não. Palavras, sim. Dependendo dos momentos, como sempre: Honestidade. Passional. Imaginacional. Existencial. Humor. Respeito. Pátria. Mutarara. Afirmação. Desgraçada.

P23. O que é que mais detestas?

FDK: Injustiças. Cobardia. Intrigas. Mentiras. Falsidade. Arrogância. Petulância. Megalomanias. Racismo injusto. Tribalismo Injusto. Regionalismo injusto. Exclusões injustas. Falta de escrúpulos. Falta de humildade. Subserviência que tende a complexo de inferioridade. Pacatez fora dos limites socialmente aceites.

P24. Quais são as personagens históricas que mais desprezas?

FDK: Pelo que me contam, Hitler foi mau. Esse merece meu desprezo. Desprezo também todos aqueles que se sentaram e programaram colonizar a ÁFRICA. Desprezo a todos aqueles que se põem em cima dos demais, como se a vida girasse só à volta deles. Desprezo a todos aqueles que encarceraram Mandela e ainda outros, com a mania de que eram e são donos dos outros. Detesto a superioridade de uns e a inferioridade de outros. Detesto a subjugação.

P25. Quais seriam os dons da natureza que gostarias de possuir?

FDK: Não sei. Nunca pensei e nem quero pensar. Contento-me com aquilo que a natureza me deu. Só o facto de estar aqui e conversar contigo já é um dom. Agradeço o dom da escrita e de outros invisíveis que tenho. Mas falando a verdade, gostaria de ter o dom de curar pessoas enfermas, de parar com as guerras, fazendo com que bombas e armas não explodissem ou disparassem…Gostaria de ter o dom de fazer desaparecer os maldosos, os injustos, os mentirosos, os megalómanos…

P26. Como gostarias de morrer?

FDK: Da maneira como nos preparamos para nos casar e temos convidados, gostaria de fazer o mesmíssimo: convidar a gente amiga, ler os discursos de despedida, anunciar a minha última vontade, ler o meu testamento, dar a última festa de arromba e no meio de comerete, beberete, música e alegria, zás, me fui … partir como quem vai a uma VIAGEM longa e nunca mais voltar ao barulho térreo.

P27. Agora e já, nessa nossa conversa, como é que estás a sentir-te?

FDK: Apaixonado pelo teu sorriso e tua inteligência feminina. E paixões não se programam – não me condenes….Mas acima de tudo, apaixonado por essa tua capacidade de aturares o meu eu e conseguires uma conversa amena como essa. Sinto que conseguiste convencer-me a partir um pouco a loiça pensamental que há muito estava guardada na minha gaveta existencial.

P28. Qual seria o defeito que facilmente perdoarias?

FDK:. Perdoo facilmente aos que não sabem o que fazem, independentemente da gravidade. Mas quando alguém quer ser esperto e passar-me a perna, esse aí – vai engolir o seu orgulho. Trabalhei com alguém, algures, que me espezinhou a ponto de eu me sentir ninguém. Ele NINGUNEOU-me, como diriam os espanhóis. Numa noite, fui a casa dele e disse-lhe de cara: A PARTIR DE HOJE NÃO QUERO FALAR MAIS CONSIGO, por um tempo mínimo de dez anos. ESQUECA QUE EU EXISTO. E desde então, não lhe dirijo palavra. E passaram, de facto, mais de dez anos. Recentemente, encontramo-nos numa Recepção oficial. Caçou-me e sem mais e nem menos, estendeu-me a mão. Pedi encarecidamente ao amigo que estava a confabular comigo para apertar aquela mão do “diabo”. Sorte minha e dele – o meu amigo fez as honras e todos nós evitamos o embaraço. Detesto hipócritas, falsidades, megalómanos. Perdoo facilmente, mas quando alguém propositadamente me enche o copo, terá que aguentar com as consequências. O Poder que é Poder é para ser usado respeitando os subordinados, os outros, os demais. Esse SENHOR quis me esmigalhar para mostrar o seu poderio e o tiro saiu-lhe pela culatra. Antes de sermos isto ou aquilo, somos seres nascidos de uma mãe e com esforços multiplicados de um pai. Respeitemo-nos!!!

P29. Qual é o lema da tua vida?

FDK: Tenho quatro lemas: 1. “Nada acontece por acaso.” 2. “Quando a razão te assiste, segue em frente.” 3. “Põe quanto és no mínimo que fazes.” 4. “Não espezinhes o semelhante a ponto de ele se sentir ninguém.” E prezo muito esses quatro lemas na minha vida. Não são lemas da minha invenção, senão frases ou dizeres que dou vida no meu relacionamento com o mundo externo. O número 3 é verso de um poema de Fernando Pessoa, um dos meus poetas de cabeceira. E o número quatro é um conselho dado por Camarada Marcelino dos Santos, um dos meus heróis da vida real. E faço questão de não pisar os outros, que eles merecem o meu respeito, merecem ter o seu próprio espaço de afirmação. Se já pisei é porque a pessoa pisada criou condições para que isso acontecesse.  Existem Satanás que não se cansam de picar Homens do bem até aos ossos. Sou humano e a reacção de autodefesa é natural e instintiva.

Título da responsabilidade de Lupa News

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