Jornalismo ao pormenor

Roberto Dove assume INICC entre promessas e velhas dúvidas

Mudam-se os nomes, repetem-se os discursos. O Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (INICC) tem agora um novo director-geral: Roberto André Dove, homem de casa, funcionário de longa data do sector, que ascende ao cargo máximo com a missão – ambiciosa, como sempre – de transformar a cultura num motor de desenvolvimento socio-económico.

A cerimónia de tomada de posse, realizada recentemente no gabinete da Primeira-Ministra, Benvinda Levi, em Maputo, seguiu o guião habitual: exaltação do “enorme potencial” das Indústrias Culturais e Criativas (ICC), aplausos à identidade nacional e promessas de emprego, rendimento e inclusão social.

“É com este espírito que o Governo criou o INICC”, declarou a Primeira-Ministra, desafiando Dove a fazer do Instituto uma locomotiva de inovação, empreendedorismo e impacto cultural — palavras que, na boca de sucessivos governos, já soam como um disco riscado.

Entre as prioridades anunciadas, estão velhos conhecidos do sector: mapeamento de talentos, promoção de projectos criativos e diálogo com os agentes culturais — um diálogo que, na prática, frequentemente se limita a monólogos governamentais.

Roberto Dove, formado em Linguística pela Universidade Eduardo Mondlane, tem currículo sólido no sector: já foi director nacional das ICC e vinha liderando a divisão de Estudos e Planeamento do próprio INICC. Ou seja, conhece bem o terreno — e também os labirintos institucionais, onde boas ideias muitas vezes esbarram na burocracia, na escassez de fundos e no escasso apetite político para financiar cultura de forma estratégica.

O INICC, criado para regular e impulsionar as actividades culturais, acumula funções: regista, licencia, fiscaliza, protege direitos autorais e ainda precisa promover a cultura no mercado interno e lá fora — uma lista de tarefas ambiciosa para um instituto que, até hoje, tem avançado mais no papel que no terreno.

A nomeação de Dove é, portanto, mais um capítulo de um enredo já conhecido. Faltará agora ver se o novo director conseguirá furar o bloqueio que mantém as indústrias criativas entre o discurso oficial e a realidade: um sector rico em potencial, mas pobre em investimento.

Para já, os artistas e agentes culturais assistem ao anúncio com a habitual mistura de esperança e cepticismo. Afinal, neste palco, as promessas sempre foram muitas. E os aplausos, escassos.

 

 

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