
Parque Nacional de Maputo é património mundial
O Parque Nacional de Maputo (PNAM) foi oficialmente inscrito, semana passada, na prestigiada lista de património mundial da UNESCO, tornando-se o segundo sítio moçambicano a receber tal distinção, 33 anos após a inscrição da Ilha de Moçambique. A decisão foi anunciada durante a 47.ª Sessão do Comité do Património Mundial, em Paris, e reconhece a importância ecológica e cultural de uma das últimas grandes reservas de biodiversidade intactas da África Austral.
A inscrição representa, sem dúvida, uma vitória simbólica. Segundo Gustavo Dgedge, secretário de Estado da Terra e Ambiente, o estatuto reconhece os esforços do Governo, comunidades locais e parceiros internacionais na restauração de ecossistemas e preservação de espécies ameaçadas. O Parque, que combina recifes de coral, zonas húmidas, praias, savanas e mangais, abriga megafauna terrestre e marinha, aves aquáticas e populações de tartarugas nidificantes — um mosaico ambiental de elevado valor científico e turístico.
Mas por trás da retórica diplomática e do entusiasmo governamental, impõem-se questões que precisam ser encaradas com sobriedade. A nomeação como património mundial é mais do que uma honra: é um compromisso exigente. Significa, acima de tudo, que Moçambique terá de provar, para além do papel, que é capaz de proteger o PNAM de ameaças reais como o avanço desordenado da agricultura, a caça furtiva, a exploração desregulada de recursos naturais e o turismo predatório.
Ainda que o reconhecimento seja atribuído ao “esforço conjunto de mais de uma década”, pouco se diz sobre os desafios enfrentados no terreno. As comunidades que vivem dentro e nas cercanias do parque, por exemplo, enfrentam um dilema constante entre sobrevivência e conservação. O envolvimento “valioso” dessas populações, frequentemente citado em discursos oficiais, precisa ir além de palavras: requer acesso a recursos, direitos garantidos à terra, inclusão no desenho das políticas ambientais e benefícios tangíveis do ecoturismo.
O Presidente da República, Daniel Chapo, saudou a decisão como um “marco histórico” e símbolo de “esperança ambiental”. No entanto, essa esperança será apenas retórica se não for acompanhada por uma estratégia sólida de financiamento, fiscalização ambiental rigorosa e transparência na gestão dos fundos que o novo estatuto pode atrair.
Ser património mundial não é um troféu, mas uma responsabilidade. Cabe agora ao Estado moçambicano demonstrar que é capaz de equilibrar conservação, justiça social e desenvolvimento sustentável, numa região onde as promessas costumam esbarrar nos limites da realidade.