Jornalismo ao pormenor

Ossufo Momade diz que não pode existir reconciliação nacional quando uns têm tudo e outros nada têm para sustentar famílias

O Presidente da Renano, Ossufo  Momade,  disse esta terça-feira (17 de Novembro) em Maputo,  que as assimetrias regionais, a falta de distribuição equitativas da riqueza,  a partidarização do Estado, a má gestão da coisa pública, o nepotismo, a perseguição, sequestros e assassinatos selectivos dos opositores políticos, académicos, magistrados, jornalistas entre outros males constituem um grande atentado à paz e reconciliação nacional.

Momade, falava durante uma mesa redonda com o tema “Paz e Reconciliação em Moçambique: lições, desafios e perspectivas”, organizado pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJACR) e Instituto Para a Democracia Multipartidária (IMD) no âmbito da celebração dos 30 anos do multipartidarismo em Moçambique.

Para o líder da Renamo, não pode existir reconciliação nacional efectiva quando uns têm tudo e outros nada têm para sustentar as suas famílias, quando há perseguições e intolerância em relação ao pensar diferente, quando no Aparelho do Estado e nas empresas públicas só é dirigente quem pertence ao partido governamental.

“Não há reconciliação quando as autarquias dirigidas pela oposição são discriminadas na hora de alocação de fundos e de investimentos para o desenvolvimento”, disse Momade, tendo salientado que deve ficar claro que todos estes fenómenos não permitem uma estabilidade política em Moçambique, porquanto estas situações levam o país a viver uma paz aparente.

Segundo o Presidente da RENAMO, os 30 anos da Democracia Multipartidária não foram fáceis, porquanto nunca houve um espírito sincero de diálogo franco e aberto entre os moçambicanos, prevalecendo sempre, os interesses de um grupo sobre os interesses de todo o povo moçambicano. “Precisamos de coerência que consiste na aceitação do outro como sendo também moçambicano com direitos e liberdade iguais”.

Mais adiante, chamou atenção para a participação de todos na preservação da paz. “A tarefa de contribuir para a Paz não é somente da RENAMO é de todos os que querem ver Moçambique próspero, por isso é necessário o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade moçambicana”.

Segundo Momade nunca foi agenda da Renamo tomar o poder pela força das armas, “por isso participamos nas primeiras eleições multipartidária realizadas em 1994, bem como nas subsequentes cientes de que a democracia e o Estado de Direito são apanágio da convivência plural, para além de que continuamos a dirigir  o processo  de desmobilização, desarmamento e reintegração da nossa força residual como sinal inequívoco de manter a paz e a reconciliação nacional”.

Ossufo Momade  entende que mesmo assim,  as cíclicas eleições em vez de serem um momento alegre e festivo, transformaram-se num flagelo nacional uma vez que  sempre que se aproxima um processo eleitoral segue-se uma instabilidade nacional “porque o partido no poder simplesmente manipula os Órgãos de Gestão Eleitoral incluindo o Conselho Constitucional, a Polícia da República de Moçambique, a Administração Pública para de uma forma descarada agir ilicitamente a seu favor numa clara colocação dos interesses partidários acima dos superiores interesses dos moçambicanos”.

Não obstante diversos desafios apontados no decurso dos 30 anos da Democracia Multipartidária, o Presidente da RENAMO disse estar satisfeito e orgulhoso pelo fruto da sua luta pois, “embora  a nossa democracia esteja a conhecer vários recuos e constrangimentos, está claro que é um processo irreversível”, dando como exemplo a existência de uma Assembleia da República a representar a todos os moçambicanos, as Assembleias Provinciais e os Conselhos Autárquicos.

“Defendemos uma Governação descentralizada e como consequência, embora com evidentes manipulações, os governadores provinciais resultam de eleições, um privilégio que durante mais de quatro décadas era negado aos moçambicanos”, disse  Momade para quem, como partido, a Renamo está a fazer a sua parte e ressalva que, para  que Moçambique  transforme-se  num País ideal para viver em liberdade e harmonia, ‘’precisamos de conjugar esforços de todas as sensibilidades da nossa sociedade porque sozinhos nunca alcançaremos esse desejo e objectivo colectivos.’’

Paz e a reconciliação são elementos estruturantes

Na ocasião, o Director Executivo do IMD, Hermenegildo Mulhovo, sublinhou que a paz e a reconciliação são elementos estruturantes para a constituição e sustentabilidade da democracia e, ao longo dos 30 anos desde a introdução da democracia em Moçambique,   apesar de conflitos armados que se registaram de forma cíclica desde 2002, sobretudo no período pós-eleitoral, foi possível  através do diálogo alcançar consensos e acordos políticos fundamentais  para a paz e coesão social no país.

“A  grande lição que tivemos ao longo desses anos é de que o diálogo e inclusão   são elementos fundamentais para sustentabilidade dos acordos de paz de que a nossa democracia  depende para o seu fortalecimento e consolidação” disse Mulhovo ajuntando que o dialogo não se deve apenas limitar à fase de negociação e assinatura de acordos, é necessário  que esteja também presente em todos os períodos de implementação desses acordos.

Deixe uma resposta