Jornalismo ao pormenor

Nataniel Ngomane: Não são as redes sociais que matam a língua, são as pessoas

O Professor universitário de Literatura, Nataniel Ngomane, aponta questões históricas e sociais como estando na base dos problemas de leitura, escrita e interpretação que se verificam na comunidade estudantil, e não só, em Moçambique e que ganham visibilidade extrema nas redes sociais como whatsapp e facebook.

Questionado sobre a situação da escrita nessas redes sociais, Ngomane não hesita e aponta: “Eu não acho que são as redes sociais que matam a língua. Eu acho que as pessoas que escrevem nas redes sociais já estão mortas e elas estão a matar a língua. Não é a rede social que mata. Mas a pessoa que escreve.”

Ngomane defende que para se perceber a amplitude e complexidade deste problema é necessário, em primeiro lugar, recuar aos primeiros anos da independência. Em 1975, a população moçambicana era de nove milhões e havia 300 mil crianças nas escolas.

No entanto, de 1976 a 1977, a população estudantil subiu para três milhões e quinhentos e essa subida não foi acompanhada pelo aumento do número de professores preparados para ensinar as crianças. Pelo contrário, este reduziu porque houve uma grande fuga de quadros portugueses com a independência e os substitutos daqueles não tinham preparação adequada para ensinar na altura.

Outro aspecto a se ter em conta é que depois da independência o país passou por profundas carências de livros.

“Uma das formas de aprender uma língua é ler. Fala bem quem lê bem. Escreve bem que lê bem. E nós tivemos défice de livros de língua portuguesa em Moçambique depois da independência,” sustenta, ajuntando que as consequências se fazem sentir ainda nos dias de hoje.

“Há crianças que entram na 1ª Classe e terminam a 12ª sem ter um livro próprio, em parte porque os pais não têm capacidades de aquisição mas também porque o livro ainda não é produzido o suficiente para que cada criança tenha o seu livro,” afirma.

Para o académico, estas dificuldades mostram por afirmação qual vai ser o desempenho dessas pessoas em matéria de domínio da língua. Seja na fala, na escrita ou no processamento de informação.

Para Ngomane, actual presidente do Fundo Bibliográfico, a solução passa por uma melhor preparação dos professores da língua.

“Temos dificuldades, sim. Temos deformações, sim. Mas são deformações ligadas a questões económicas, sociais e históricas. Como é que vão ser debeladas? Preparando melhor os quadros que vão ensinar a língua. Para isso, tem que ter livros, propõe.

A solução exige, no entanto, um trabalho conjunto com as famílias. “As famílias têm que assumir esse compromisso de ensinar as crianças comprando livros, lendo com elas, exigindo e supervisionando a execução de trabalho de casa. Uma criança que não se exercita todos os dias vai escrever mal. Esse é que é o problema.

Deixe uma resposta