Perdeu a vida, na madrugada de quarta-feira em Maputo, vítima de doença, o antigo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Abdul Carimo. Informações em nosso poder, indicam que Carimo estava internado num hospital privado da capital moçambicana, onde recebia tratamentos enquanto esperava a sua transferência para a vizinha África do Sul.
Na semana passada, a família do malogrado fez circular um pedido de ajuda para angariar cerca de 2.5 milhões de randes, correspondentes a cerca de 10 milhões de meticais que aquele país pediu como caução.
Em um comunicado do último domingo, 28 de Março o Conselho Islâmico de Moçambique, orgão que formalizou o pedido, informou que Abdul Carimo Nordine Sau padecia de uma infecção pulmonar grave e necessitava urgentemente de realizar uma ECMO (intervenção especial), de que o país não dispõe capacidade para o efeito.
O Conselho Islâmico de Moçambique explicou que o apoio financeiro era para a evacuação de Abdul Carimo Nordine Sau para África do Sul, Hospital Mil Park. Para tal, era necessário dois milhões e quinhentos mil rands para o pagamento da caução e duzentos mil rands para o transporte – ambulância aérea.
O valor serviria para cobrir custos de ambulância aérea e internamento urgente, o que não chegou a acontecer, pois Abdul Carimo faleceu antes mesmo dos parentes conseguirem reunir o montante.
Abdul Carimo foi presidente da CNE entre 2013 e 2020, na sequência de uma candidatura apresentada pela sociedade civil, tendo sucedido no cargo a João Leopoldo da Costa.
O Presidente da República, Filipe Nyusi disse, numa mensagem de condolências que o Sheikh Abdul Carimo chegou a este cargo indicado pela Sociedade Civil, num processo de inclusão de cidadãos não filiados aos partidos políticos no processo da construção democrática no país.
Filipe Nyusi apontou que a sua capacidade de ponderação e a sua integridade ditadas pela dedicação à causa da harmonização social que escolheu seguir como líder religioso, fizeram com que os seus pares o escolhessem para os representar na CNE, e essa confiança foi reflectida na forma isenta como dirigiu o órgão eleitoral.
Para além de ter dirigido a CNE, o Sheikh Abdul Carimo foi líder religioso destacado, com enfoque para os seus sermões, quer no púlpito, assim como na imprensa, que contribuíram sobremaneira para a harmonia dos crentes de várias religiões.
“Neste momento de dor, quero dirigir os meus sinceros pêsames à família e à toda a comunidade religiosa do país”, frisou, o Presidente da República.
O presidente da Renamo, Ossufo Momade sublinhou que foi com profundo pesar e consternação que tomou conhecimento do desaparecimento físico do Sheik Abdul Carimbo Nordine Sau, antigo Presidente da Comissão Nacional de Eleições.
‘’Em vida dedicou-se para a preservação dos valores mais nobres da nossa sociedade. Quando foi chamado a servir o nosso Estado aceitou ser membro e presidente da Comissão Nacional de Eleições, na qual dedicou-se com muita abnegação e empenho. Neste momento em que o país curva-se para dizer o último adeus e enaltecer a sua memória e os seus feitos, em nome do Partido RENAMO e meu próprio endereço sentidas condolências. á família enlutada e a toda a Comunidade Muçulmana’’, referiu, Ossufo Momade.
A iniciativa de Ossufo Momade não está errada, mas o conteúdo da mesma é muito curioso, e até incoerente, se comparado com a posição da Renamo em relação aos processos eleitorais passados, incluindo os que aconteceram entre os períodos 2013 e 2020, onde Abdul Carimo era Presidente da CNE.
A Renamo , nas eleições gerais de 2014, rejeitou os resultados, considerando-os fraudulentos e garantiu que ia impugnar a votação. “Não reconhecemos estes resultados porque foram fraudulentos, com certeza que vamos impugnar”, disse o representante do partido, André Majibir.
Num texto de 18 de Novembro de 2018, publicado no jornal A Carta com o título ‘’As eleições de Marromeu e uma mentira grosseira de Abdul Carimo Essau’’ referere que André Magibiri, mandatário da Renamo, disse que a CNE devia ter vergonha do que estava a fazer, porque mentiu. “O que acabamos de assistir nesta sala, chama-se centralização nacional e apuramento geral do roubo de votos que aconteceu no município de Marromeu. Não tem outro nome. O próprio Presidente da CNE mentiu perante todos nós. Ele afirmou que o apuramento iniciou logo após o encerramento das mesas. Isto não é verdade. Eu estava em Marromeu, onde pura e simplesmente os membros das mesas ficaram sentados, em vez de fazerem a contagem dos votos (…). Não podemos estar aqui a mentir ao público”, reiterou Magibiri.