Mocímboa da Praia: Moçambique deve se posicionar
Interpretações dos ataques em Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, no norte do país, são várias e, em parte, dependem da proveniência das opiniões. Uns supõem que tudo foi orquestrado para desviar o essencial sobre o debate da política moçambicana, outros falam da debilidade de fronteira e ausência de políticas (concretas) de inclusão. E há quem diz que Moçambique pode estar a viver experiência de terrorismo, o que não é de desejar. Quase, todos são da opinião de que o Estado deve se posicionar, esclarecer e tranquilizar os moçambicanos sobre o fenómeno.
Só para lembrar. Os conflitos registados em Mocímboa da Praia caracterizam-se como sendo atípico, uma vez que não se trata dos casos entre o Governo e a Renamo, ou uma situação com núcleo de comando à vista de todos e com que se pode negociar. Informação Oficial de número de mortes (polícias e insurgentes) é concreta, mas não é clara, está mais para preliminar que para definitiva. O certo é que o número de mortes (de polícias mais insurgentes) está acima de 20 e abaixo de 30.
Diz-se que os ataques, das duas primeiras semanas deste Outubro, cujo o último aconteceu na quinta-feira (dia 12), foram efectuados por um grupo de jovens com ligação ao Islamismo, e que muitos deles estudaram fora do país, informação que, ao que tudo indica, ainda não se certificou. Uma reportagem da Lusa, publicada e citada em jornais internacionais, explica que apesar de (os insurgentes) se autointitularem Al-Shabaab, aparentemente não têm ligação com o grupo terrorista do sul da Somália – o nome, uma alusão a juventude, em árabe, é usado por vários movimentos no mundo. Em Moçambique, as associações muçulmanas convocaram à imprensa para se distanciar dos ataques.
Tudo pode parecer orquestrado para desviar as atenções
Ivone Soares, em entrevista ao programa, Causa e Efeito, da RTP, comentou que o está a acontecer é uma situação muita séria e preocupante e as autoridades simplesmente fizeram vista grossa. “Mocímboa da Praia tem reservas incomensuráveis de gás, e isso pode fazer com que as pessoas (inluindo potências mundiais) não olhem para os acontecimentos de forma ordenada e focalizada. Pode parecer que tudo foi orquestrado para que não se discuta os problemas reais do país.
Para a chefe da bancada parlamentar da Renamo, o Estado Moçambicano devia denunciar o caso imediatamente quando houve informação dos primeiros sinais. “Acredito que as coisas não podiam ter chegado onde chegaram. No entanto, dois dias depois do assassinato bárbaro do presidente do Conselho Municipal de Nampula,..aparece este movimento esquisito que era para distrair completamente as atenções.”
Só para se ter uma ideia do jogo político no país, um artigo de Bárbara Reis, intitulado O Silêncio de Moçambique tem outro nome, publicado no jornal PUBLICO.PT descreve que Moçambique é um país em stand-by, onde os esquadrões da morte fazem parte do dia-a-dia e os políticos temem pela sua vida. Em Moçambique, há deputados da Assembleia da República que têm medo de ser envenenados e que, em cerimónias públicas, não bebem nem comem nada que não seja servido a todos. Poderá ser excesso de zelo ou paranóia, mas é assim que está a democracia moçambicana.
De acordo com Bárbara Reis, há anos que os doadores que apoiam Moçambique se queixam de nada mudar no país e, sobretudo, de não verem o mínimo esforço para tentar que algo mude. O descontentamento é tal que chegou a falar-se da “greve dos doadores”. Agora é diferente. O escândalo dos “dois bis” atirou Moçambique para um patamar nunca visto.
Sobre a dívida, continua, ainda só se conhece o sumário executivo do relatório da auditoria internacional (da Kroll), mas o que lá está não é bonito de se ler. Na página 15, a Kroll diz que há “gaps” que impedem compreender “exactamente como é que os dois mil milhões de dólares foram gastos”, mas que a diferença de preços entre os bens e serviços descritos nas facturas e os seus valores de mercado é de 713 milhões de dólares.
Como diria alguém nas redes sociais ao comentar sobre o artigo, este é Moçambique “visto de fora, por outros”.
Voltando ao assunto, o país, “visto de dentro, por nós ”, Lutero Simango, do MDM, também no programa Causa e Efeito, não associou o fenómeno ao Islão, mas sim com “a ausência de políticas de inclusão, bem como de partilha de recursos.”
O chefe da bancada parlamentar do MDM lembrou que “quando há uma agressão militar à um país, ou invasão de um grupo não identificado, com recursos de armas é imperativo que o Governo (nesse caso, moçambicano) na qualidade de Comandante-Em-Chefe das Forças Armadas apareça a esclarecer e a informar sobre o estado real da situação e tranquilize a sociedade.
Pode ser um caso de terrorismo
O jornalista Ericino de Salema, em entrevista à STV disse que a situação em Mocímboa da Praça precisa de intervenção de especialistas em Sociologia, Terrorismo entre outras áreas. Não só, o que é um caso isolado e localizável pode se dispersar, o que não se deseja, para outros pontos do país.
Um Outro elemento que O Estado através do Governo deve levar em consideração é a situação da comunicação. Para Ericino de Salema, os mecanismos de comunicação do Estado precisam de reestruturação, por exemplo, quando se fala de comunicação de crise. Naquela situação a população devia receber informação a partir de um único comando, uma informação que fosse uniforme, o que significa que a informação vindo da polícia e da Governadora da província devia estar em harmonia para não criar problema de comunicação.