
Moçambique reforça capacidade de testagem para conter mpox, mas desafios persistem
Moçambique anunciou a recepção de mais quatro mil testes para mpox, num esforço para aumentar a capacidade de diagnóstico após a confirmação de casos da doença no Niassa. Esta medida soma-se ao lote anterior de igual quantidade distribuído aos laboratórios central e provincial desde 2024, quando a declaração de emergência de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o aumento de casos no Malawi colocaram a região em alerta.
Segundo o diretor nacional de Laboratórios de Saúde Pública no Instituto Nacional de Saúde (INS), Nédio Mabunda, o reforço visa acelerar o processo de testagem e reduzir o tempo entre a recolha das amostras e a emissão dos resultados, um ponto crítico numa doença com alto potencial de transmissão. Desde o ano passado, profissionais de saúde vêm sendo capacitados para distinguir a mpox de outras enfermidades com sintomas semelhantes, como varicela e sarampo, e para garantir o acompanhamento clínico de casos confirmados e seus contactos.
Apesar do incremento na vigilância laboratorial, a estratégia continua a depender fortemente do isolamento domiciliário, medida que levanta questionamentos sobre a sua eficácia em comunidades com condições precárias de habitação e saneamento. Paralelamente, as autoridades apostam em campanhas de sensibilização para a prevenção, recomendando práticas como a limpeza de superfícies, uso de protecção individual e evitar contacto com pessoas infectadas, orientações que nem sempre encontram adesão em contextos rurais e de baixa literacia sanitária.
Para Filipe Mateus, da Direção Nacional de Saúde Pública, a equipa multissetorial destacada para apoiar as áreas afectadas, assegura a monitoria clínica, identificação e quarentena dos contactos e reforço da vigilância epidemiológica. No entanto, permanece a dúvida sobre se esses esforços serão suficientes para travar um eventual surto num país que ainda enfrenta fragilidades estruturais no sistema de saúde.
O boletim oficial reporta, até agora, quatro casos confirmados de mpox no Niassa, 15 testados e nove indivíduos em isolamento. Há ainda 20 casos suspeitos distribuídos entre Niassa e Tete. O cenário repete um alerta já vivido em 2022, quando Moçambique registou o primeiro caso da doença na província de Maputo, controlado rapidamente, mas sem uma estratégia clara para surtos de maior escala.
Diante disso, especialistas alertam: o aumento da capacidade de testagem é um passo relevante, mas insuficiente se não for acompanhado de logística eficiente, rastreio rigoroso e condições reais para isolamento seguro. Caso contrário, o país pode enfrentar um desafio sanitário mais complexo, numa altura em que outras crises, como a malária, continuam a pressionar os serviços de saúde.