
Moçambique projecta tímido crescimento industrial, mas cenário económico continua frágil
Apesar da recente queda da produção industrial, o Governo de Moçambique projecta um crescimento de 1,2% para este ano, estimando alcançar um volume de 146.045 milhões de meticais. A previsão, porém, está longe de representar uma retoma robusta e expõe as limitações estruturais da economia nacional.
Segundo os dados oficiais, o ligeiro crescimento será impulsionado, sobretudo, pela indústria metalúrgica de base, que prevê um aumento de 1,5%, totalizando 41.443 milhões de meticais — cerca de 28,4% da produção industrial do país.
Outros sectores industriais também apresentam expectativas bastante modestas: a indústria alimentar projecta um crescimento de 2%, a de bebidas, 1%, enquanto os produtos minerais não metálicos devem avançar 1,5%. Já a produção química e de fibras sintécticas prevê um aumento irrisório de 0,4%.
Embora o Governo apresente estes números como um sinal de recuperação, a realidade é que a produção industrial sofreu um forte recuo no ano passado, caindo para 113.304 milhões de meticais — um tombo significativo face aos 151.292 milhões registados em 2023. A explicação oficial aponta para os efeitos da instabilidade social, incluindo saques e paralisações após as eleições de Outubro, mas ignora problemas crónicos como a fraca competitividade e o elevado custo de produção no país.
Mesmo com este desempenho frágil, o Orçamento do Estado para 2025 prevê um crescimento do PIB de 2,9% e uma inflação média de 7%. As exportações de bens são estimadas em 8.431 milhões de dólares.
O cenário orçamental, contudo, levanta preocupações: as receitas públicas deverão atingir 385.871 milhões de meticais (equivalente a 25% do PIB), insuficientes para cobrir as despesas previstas, que totalizam 512.749 milhões de meticais (33,2% do PIB). O défice orçamental, estimado em 8,2% do PIB — equivalente a 126.878 milhões de meticais —, será financiado principalmente através da emissão de dívida pública, o que indica uma dependência crescente do endividamento para sustentar as contas do Estado.
Embora as autoridades tentem transmitir uma imagem de estabilidade, os números revelam uma economia ainda vulnerável, com um sector industrial estagnado e um orçamento fortemente desequilibrado. No papel, há crescimento; na prática, persistem dúvidas sobre a capacidade real do país de sustentar esse avanço.