Um dos momentos de destaque no “Percursos de Luz – conversas de inspirar”, na noite desta quarta-feira, 20, no Akino Café, deve ter sido aquele em que Venâncio Calisto, o moderador, perguntou à convidada se já tinha pensado em desistir. “Nunca pensei em desistir,” respondeu Melita Matsinhe, sem hesitar e tão rápido como se a resposta estivesse na ponta da língua.
“Estou consciente que o caminho que escolhi não é o mais fácil. Estou consciente e todos os dias me pergunto se vale a pena e respondo que sim,” partilhou para depois sublinhar que a persistência deve ter uma estratégia.
“As únicas coisas que às vezes vario são os desafios, no sentido de saber onde estou, o que mudar, o quefazer.”
Num país com corrupção, diga-se, a todos os níveis e em todos os lados, diante dos espectadores a artista e activista continua convicta na sua “lição de empreendedorismo”, e por isso, afirma, não beneficia de “costas quentes”nos projectos que faz e que mesmo assim é possível superar, uma vez que o trabalho, segundo ela, qualifica o Homem.
“Não tenho conexões. O trabalho que a gente faz vai falando. Então se vai fazer um trabalho, faça bem, porque o seu trabalho é a sua marca e peugada.”
Para a convidada do “Percursos de luz – conversas de inspirar”, o interessante nos caminhos da vida é que quando se começa a fazer as coisas que o coração quer, começam a vir as pessoas e as condições para o efeito. “O importante é procurar o caminho.”
Assédio sexual, um desafio
No encontro, marcado por simplicidade e cumplicidade entre Melita e a plateia, a professora de música que deixou de trabalhar na embaixada para abraçar o empreendedorismo, falou das dificuldades que se impõem a nível profissional pelo simples facto de ser.
“Um dos grandes desafios que temos como mulheres (profissionais) é o assédio sexual. Temos um mundo forte que nos pisa simplesmentepor sermos de outra forma, que acha que devia nos tratar de uma forma que lhe acomode. Eu acho que nós não devíamos ter que lidar com isso”, disse num discurso comovente.
Melita disse que enquanto trabalha embaixada foi vítima de assédio sexual. O caso foi parar no tribunal e depois de três anos foi julgado e ela perdeu a causa. “Perdi a causa mas não perdi o alento. Gostei de o caso ter sido julgado, apesar de ter perdido. Eu gostei muito de ver o colega que me ofendeu sentar no banco dos réus,” conta.
E porque a luta contra o assédio é um desafio diário, a dirigente do Centro de Artes Xiluva desenvolveu formas de lidar com as situações ou até evitá-las. “Eu sempre desenvolvi uma estratégia na música, ao conhecer as pessoas digo que sou tua mana. Aí já é mana. Mesmo não sendo mais velho. E eles não podem fazer coisas indecentes,” revelou.
“E uma menina que não tem estratégia pode sofrer isso até lhe prejudicar,” concluiu.
“Percursos de luz – conversas de inspirar” é um pretexto para incitar conversas sobre as peripécias com que artistas e actores sociais têm de lidar no decorrer da construção das suas carreiras profissionais. Com esta iniciativa se pretende que seja um espaço de partilha de exemplos de superação, lições de vida, de escolhas e acima de tudo de determinação e persistência, num meio, onde se é confrontado com outras formas (caminhos) de superação sem que seja por mérito e de dedicação.