Mélio Tinga lança O Voo dos Fantasmas, estórias não tem nada a ver com a obra de Paulina Chiziane
Na quarta-feira (15 de Agosto), Mélio Tinga lançou, na Universidade Pedagógica (UP) em Maputo, O Voo dos Fantasmas que é primeiro livro do autor. Trata-se de um conjunto de nove contos que pintam ‘’os fantasmas que nos atormentam enquanto seres sociais.’’ Antes do lançamento da obra, uma vez que já estava nas livrarias, houve um e outro que obviamente comprou e leu. E, pelo conteúdo, pensou que Tinga é um continuador do legado de Chiziane, que, curiosamente, fez a apresentação de O Voo dos Fantasmas. Sobre o assunto, tanto Mélio como Paulina negaram a existência de uma possível semelhança nas suas escritas e, em conversas separadas, responderam que receberam a opinião com ‘’surpresa.’’
No dia de lançamento, depois da apresentação da obra, que ocorreu de forma descontraída muitos quiseram deter o momento tirando uma fotografia com o anfitrião em gesto de carinho e admiração. Mas também houve muitos que não resistiram em pedir self com Paulina Chiziane, uma espécie de baronesa quando o assunto é literatura em Moçambique.
Depois dos momentos, marcadamente emocionantes, a apresentadora da obra, em um traje africano, procurou um dos cantos da sala, a pedido de jornalistas, para falar sobre o Voo dos Fantasmas. Havia tanto barulho que era quase impossível ter uma conversa sossegada no meio do público, na sala. Questionado se nos contos de Tinga há marcas da escrita de Chiziane, Paulina respondeu. ‘’cada um está a seguir o seu caminho. Não há nada que diz que um escreve como outro.’’
Mélio Tinga viria também a dizer, com alguma naturalidade e simplicidade na voz, que achou surpresa, ‘’quando alguns leitores disseram-me que meu livro lembra as obras de Paulina Chiziane. Nunca pensei nisso.’ Nesse ‘’pequeno’’ debate a ligação que se pode provar entre os dois autores é o facto da autora de Por Quem Vibram os Tambores do Além? ser a apresentadora de O Voo dos Fantasmas.
Sobre a obra de Tinga, que explora o universo dos fantasmas, Paulina Chiziane explicou que essa temática não é nova e nem apenas de África. ‘’Em todo o mundo há pessoas que escrevem sobre os fantasmas. Exemplo claro é o dos filmes americanos que alguns deles retratam sobre os fantasmas. E Mélio Tinga está a descrever sobre os fantasmas no espaço que lhe rodeia.’’
Uma nota de apresentação patente no verso do livro O Voo dos Fantasma de Jorge Ferrão, actual reitor da UP, explica que os contos, de Mélio Tinga, exploram o exótico e trabalham a imagem das assombrações, dos demónios e tudo aquilo que a tradição africana atribui a maledicência que afecta os seus filhos.
‘’Os contos são repletos de indagações e preocupações sociais. Preocupações próprias de quem procura pela justiça onde ela não existe e de quem assiste assassinatos e de nada valerem suas frustrações. No O Voo dos Fantasma encontramos um conjunto de estórias baseadas no medo. Estes contos são um encontro entre o lado sombrio e humano,’’ escreve, Jorge Ferrão.
A obra
O Voo dos Fantasmas é uma pequena lombada com o tamanho de metade de A4. A tiragem é de 200 exemplares e sai pela editora Ethale Publishing Lda. A mesma é constituída por 63 páginas. O primeiro conto começa na página 16 e, provavelmente por questões de estética, aos títulos são dedicados uma página inteira, e a transição entre um conto para o outro há sempre uma página em branco.
No referente aos títulos são no total nove estórias, que incluem O Fantasma Baskeville, A Morte de Khesho, o Hambúrguer que matou o Jorge, O Pobre e os seus amores. Os contos são caracteristicamente breves e, quanto ao desfecho, abertas.
O recurso a textos de narrativas abertas é intencional. O autor diz que com isso pretende não limitar a imaginação do leitor. ‘’A ideia é não impor barreiras na imaginação do leitor.’’
Leitor de autores conhecidos internacionalmente como José Saramago e Gabriel Marquez, Mélio Tinga nasceu em 1994, em Maputo. É licenciado em Educação Visual pela UP. É membro do movimento literário Kuphaluxa e presidiu a Associação de Jovens Escritores e Poetas (AJEP) em 20011.
Fonte: Correio da Manhã