Jornalismo ao pormenor

Marrocos “qualqueriza” Portugal mas não evita derrota

Arranquei o remote das mãos da minha irmã, de apenas uma dúzia de anos. Disse-lhe que queria ver o mundial. Ficou enfurecida, pois estava a ver a sua novela predilecta. Para amainar seus ânimos, garanti-lhe que teria a oportunidade de ver o campeão europeu, equipa que pratica futebol de primeira água. Ela se acalmou e, estoicamente, – porque não gosta de futebol – viu os noventa minutos do Portugal vs Marrocos. Há bocado, ouvi-lhe dizer aos amiguinhos que Marrocos é Campeão da Europa.

A culpa é minha, pois esperava mais da exibição de Portugal. Terei de contractar um nutricionista para alimentar adequadamente as minhas expectativas. É que a gula da minha expectativa provocou equívocos na cabeça da minha irmãzinha. Agora estou no youtube, à procura de qualquer exibição galáctica que Portugal tenha rubricado no Euro, de modo a legitimar a expressão “futebol de primeira linha”, na qual, confesso, só pensei depois de a expelir.

Busca inglória. Nada do que encontro é digno de um campeão europeu. De resto, a glória europeia da “turma das quinas”, há dois anos, é a melhor prova de que nem sempre quem vence é o melhor. A derrota de Marrocos, por outro lado, caminha no sentido inverso. Atesta que nem sempre o perdedor é o pior. Os Marroquinos são delicados, tratam a bola com carinho. Já os portugueses são agressivos e a tratam com violência. E é assim, violentamente, que Ronaldo bate Munir El Kajoui, correspondendo a um cruzamento de João Moutinho.

Isso acontece aos quatro minutos, e muito por culpa da desconcentração dos centrais africanos. Quatro minutos mais tarde, CR7 tem a possibilidade de violar novamente a baliza contrária, mas só consegue violar a lei da pontaria. A partir daí, são os “leões do Atlas” que espalham o seu charme. Sem renegar a agressividade (dentro dos limites do jogo), Hervé Renard dá lições de táctica a Fernando Santos. O 4-2-3-1 dos africanos transformava-se frequentemente em 4-1-4-1, subjugando o 4-4-2 de Portugal.

Com João Mário e Bernardo Silva pouco solidários, é William Carvalho, mas, sobretudo, João Moutinho (o melhor português) quem paga a factura. O médio do Mônaco, qual actor egoísta, desempenha papel de vários personagens, na tentativa de contrariar o atractivo futebol marroquino. Com naturalidade, os magrebinos chegam com mais frequência à área adversária.

Criam perigo por Benathia e por Ziyack (o melhor em campo. Que jogo!), mas Patrício resolve. Portugal só volta a aparecer aos 39’, quando Gonçalo Guedes remata para a defesa do guarda-redes, naquele que foi o último lance perigoso do primeiro tempo.

No intervalo, esperava-se que o engenheiro Fernando Santos construísse uma ideia capaz de suster o ímpeto ofensivo do Marrocos. Contudo, tal não se viu. É provável que, com tantos anos fora da profissão, o engenheiro tenha perdido engenho para coisa. A ser esse o caso, considere-se sortudo o técnico português, pois viu Nordin Amrabat relembrar-lhe as técnicas de construção, quando fez a avenida Raphael Guerreiro em pleno território russo.

Após o jogo, os portugueses não tiveram, de certo, que se preocupar com o banho. É que os marroquinos fartaram-se de dar-lhes banho de bola em campo. Para a sua infelicidade – e de todos africanos – o sabonete foi insuficiente para limpar a nódoa que manchara o pano aos quatro minutos. E a culpa, em parte, é de São Patrício, que aos 55 minutos, e após cabceamento de Younés Belhanda, fez a defesa da tarde. O resto, e não foi pouco, foram os próprios magrebinos que se encarregaram de falhar. Talvez estejam com saudades de casa…

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