
Inocêncio Albino // docente e jornalista cultural
Escritora e realizadora moçambicana, Natércia Chicane, leva seriado MARANDZA à televisão e promete encantar enquanto reunifica famílias moçambicanas nas noites de domingo. A estreia está prevista para meados de Agosto.
Quando em 2018, surgiu o fenómeno das marandzas – ninguém diria que essa febre cresceria com grande fulgor. Em pouco tempo, sob várias perspectivas, marandza virou música, palavra no dicionário e problema para pesquisa científica.
Muito já aconteceu ao longo deste ano. Contudo, o seriado MARANDZA é a peça que faltava na indústria do entretenimento moçambicano. Com propostas insidiosas, como o próprio substantivo sugere, as peripécias que apresenta prometem encantar – enquanto reunificam – às famílias moçambicanas nas noites de domingo.
O seriado MARANDZA é um produto exclusivo do canal Maningue Magic, com a posição 503. É acessível a partir do provedor DStv, sendo transmitido a partir das 20h30.
Como acontece na vida real há quem queira, simplesmente, proteger a estabilidade do seu relacionamento enquanto desfruta do bem-estar que o casamento proporciona. No entanto, isso nem sempre é possível, pois, sucumbindo aos encantos de uma marandza, o homem pode tornar-se infiel e cometer adultério. Assim, a mulher não apenas teria de superar a dor da traição, mas, acima de tudo, decidir se valerá a pena lutar pela revalidação do juramento que fez quando prometeu viver com o marido para sempre, independente das circunstâncias, sendo a interrupção do matrimónio uma consequência da morte.
O estopim das peripécias do seriado MARANDZA é similar. Ocorre quando Nety confia seus segredos vitais à Dália, até então sua melhor amiga. Mas esta atrai para a família da amiga uma marandza (no caso Yola) que se envolve com o marido, causando muitos problemas e riscos sociais.
O tema marandza sempre foi controverso. Em 2020, a socióloga moçambicana Neusa Balane realizou uma pesquisa científica adoptando o assunto como seu eixo. O estudo esclarece que este fenómeno social ocorre quando uma mulher mantém relações sexuais-afectivas com homem casado, tendo conhecimento da existência da esposa legítima. Entretanto, não tendo tendências em perspectivar uma solidificação da relação para, mais tarde, construir uma família paralela à oficial, essa mulher interessa-se apenas em satisfazer o homem sexualmente, em troca de favores materiais e satisfação financeira, o que faz dela uma mera namorada casual.
Num passado não muito recente, o músico Valter Artístico afirmou que as «marandzas são boas, mas todas perigosas». É que se os atributos físicos de uma marandza fazem desta categoria de mulheres irresistíveis aos olhos de qualquer homem, o seu comportamento torna-lhes motivo de escárnio, repulsa e repreensão social. Muitas vezes, além da sexualidade, as marandzas são pessoas despreparadas e incapazes de cuidar e suster as necessidades do homem cujas finanças lhes garantem o próprio bem-estar e conforto.
Há cinco anos, na música «nanos rycos», Dama do Bling apresentara uma posição diferente sobre as marandzas. Provavelmente nem machista nem feminista, mas peculiar. Nessa obra a marandza é apresentada como uma figura social especializada em realizar diagnósticos para prospectar – entre os homens ricos – os mais abastados de Moçambique para se relacionar com eles.
A artista desenvolve uma problematização sobre como se ser uma moça séria, em oposição a marandza, nas condições em que existem muitos homens ricos capazes de proporcionar à mulher o bem-estar social, bastando, para o efeito, envolver-se com eles e satisfazer as suas necessidades lascivas?
Ocorre que depois de perpassar a música, garantir a própria inserção em dicionários da língua portuguesa, virar questão de partida para pesquisas científicas, «a pertinência, relevância e actualidade» do tema marandza – conforme mencionado pelos seus autores – são factores que justificaram a sua reposição no tecido social, desta vez, em forma de seriado para o desfrute dos amantes da televisão.
São no total 26 episódios com a duração de 25 minutos com os quais se pretende proporcionar às audiências uma diversão intrigante e formativa para jovens e adultos a quem se destina. A sua estreia está prevista para o 17 de Agosto.
De acordo com uma nota oficial, a que tivemos acesso, MARANDZA «é um drama electrizante que expõe as fraquezas humanas e os perigos de confiar nas pessoas erradas». Ao acompanhar o seriado, é possível observar a manifestação e repercussão da inveja, entrecruzando o amor, a traição e uma ambição desmedida como elementos que conduzem às marandzas ao bem-estar social e à luxúria.
Entre os 14 actores que compõem o elenco, 11 são mulheres e, parte destas, três são um verdadeiro património das artes cénicas e da cultura moçambicana. Trata-se das actrizes Ana Magaia, Lucrécia Paco e Yolanda Fumo. Há ainda nomes emergentes e, cada vez mais, com uma carreira sólida nas artes cénicas e no cinema como são os casos das actrizes Sheila Nhachengo, Angelina Chavango e Sufaida Moyane.
Contudo, entre as actrizes novatas, há figuras cujas carreiras se entrelaçam entre Publicidade, Cinema, Tv. e Teatro. Tais são os casos de Bábila Faquirá, Dilly Dionne, Maria Helena Senda, Hillary Vilanculos, Geca Bila e Carmelinda Coana que irão contracenar com os actores Anderson Machava, Renato Rena e Christopher Evans Langa que é um verdadeiro «marinheiro de primeira viagem» nas artes cénicas, a começar por este seriado.
De facto, com o exposto, pode-se dizer que o elenco do seriado MARANDZA, criteriosamente seleccionado por Joaquim Matavel, que exerce o papel de director de casting, é composto por figuras sonantes showbiz moçambicano para emprestar uma aura agradável e compatível com os momentos de suspense contidos nas suas peripécias.