Jornalismo ao pormenor

Maputo: 132 anos na cartografia literária dos melhores

A história

A cidade teve muitos nomes. Baía da Lagoa, Lourenço Marques e Maputo. São alguns.

No já citado texto de Luís Loforte diz-se que a primeira alusão feita à Baia da Lagoa parece ser aquela que vem referida num planisfério que se presume ter sido furtado por um navegador genovês de nome Cantino para entregar como presente ao titular do ducado de Ferrara, um antigo Estado da Península Itálica que existiu entre 1471 e 1594.

De acordo com o texto os primeiros navegadores portugueses a entrarem na Baía, após a viagem de Vasco da Gama à Índia, em 1498, terão verificado que a ela vinham grandes cursos de água, supondo que um deles provinha de um enorme lago para o interior, daí a primitiva designação de Baía de Lagoa.

Anos depois, continua o texto, entre o final de 1944 e princípio de 1945, um veleiro partiu da ilha de Moçambique para explorar as terras do sul, tendo como missão primordial o estudo das possibilidades económicas oferecidas pela Baía da lagoa. À cabeça do veleiro estava Lourenço Marques, um piloto das naus da índia.

Daí viria o que muitas literaturas dizem. Por causa das riquezas Maputo viria a ser chamado por Baía Formosa e Baía da Boa Paz.

É longa, complexa e muito provavelmente ainda inacabada a História dos momentos da capital de Moçambique deste Baía da Lagoa para actual cidade de Maputo. E há muita confusão da história como por exemplo de documentos no referente à data.

A unanimidade é que o município de Lourenço Marques foi elevado a cidade em 10 de Novembro de 1887. E em 3 de Fevereiro de 1976 Samora Machel mudou a capital da Ilha de Moçambique para Maputo, o que foi formalizada em 13 de Março do mesmo ano.

O nome de Maputo provém do Rio Maputo, que marca parte da fronteira sul do país.

Maputo não é apenas o bairro do cimento

Maputo: 132 Anos na cartografia literária dos melhores

Maputo não é apenas o bairro de cimento. A cidade é também de gente deMafalala, Xipamanine, Xiquelene, Chamanculo, Maxaquene, Zimpeto, Marracuene, Zona Verde, Machava entre outros pontos que aqui não cabe e não é necessário anotar. Como um rio e um mar essa gente chega a partir das primeiras horas da manhã por meio de longas e congestionadas filas de carros.

 Sobre a cidade há um texto de Júlio Carilho que melhor caracteriza o ambiente. Precisamente a partir da Avenida Samora Machel. “Na Avenida Samora Machel, o país espelha-se. Vê-se na diversidade de ambientes, no palpitar da cultura. ” E continua com a descrição. “Uma rua em que se está entre o bancário e o lavador de carros, entre o vendedor de mariscos junto ao porto, as bancas de revistas e o fotógrafo de rua na entrada do Jardim Tunduro; um trajecto em que também os produtos deambulam atrás dos clientes.”

Gente que quando o sol se vai regressa a casa. Mas sem deixar a cidade solitária, porque no centro da cidade sobram pessoas que incluem gestores, jornalistas, funcionários da saúde, polícia, padeiras cujo trabalho exige que não durmam.

Qual é a proveniência de pessoas que fazem Maputo?

São de toda Geografia do país. Emigram a partir de há muitos anos. A título de exemplo, Ungulani Ba Ka Khosa traz um belíssimo exemplo disso quando escreve sobre Mafalala, arredores da cidade. “Havia a Mafalala dos macuas, etnia que em vagas migratórias iniciadas nos princípios do século XX, 1907, altura em que um grupo de dançarinos da ilha de Moçambique trouxe à capital, Lourenço Marques, a dança N’Falala para obsequiar o príncipe Luís Filipe de Bragança.”

Luís Loforte sublinha que  Maputo é a capital de Moçambique, motivos suficientes, ou, concretamente, motivos históricos, culturais, económicos, sociais, políticos para tanta confluência de pessoas.

Quem quiser identificar as mais de 30 línguas locais, faladas no país, pode recomenda-se que visite mercados Zimpeto, Xipamanine, Xiquelene. Certamente que há-de encontrar alguém que fale uma das línguas. Nestes pontos pode encontrar um pouco de todo tipo de produto proveniente do Rovuma à Maputo, do Zumbo ao Índico.

Todos os dias e toda a hora chegam na cidade pessoas para estudar, fazer negócios, visitar familiares ou amigos entre outros objectivos. Maputo é ponto de encontros de pessoas, culturas, ideias e ideais. É comum ver abraços de pessoas que há muito tempo não se encontram. Mas que não podem interagir horas intermináveis porque a urbe exige gestão de tempo rigorosa.

Maputo, a cidade que não dorme

“Maputo é a capital de Moçambique, toda a gente o sabe. E quantas coisas sabemos, mas que são ditas à saciedade durante a nossa existência?”, Luís Loforte há alguns anos escreveu sobre Maputo. O texto é intitulado “Maputo, Os nomes do Jubileu”. Está na Revista Índico, série III, número 16.

Muitos são jornalistas, escritores, historiadores entre outros que tentaram escrever sobre Maputo da melhor forma que puderam. Conseguiram? Não sei. Hoje, 10 de Novembro de 2019, Maputo festeja 132 anos da existência como cidade. À partida, duas afirmações: Maputo foi, é e será ponto de encontros entre pessoas, culturas, experiências a nível nacional e além-fronteiras. Maputo é também a cidade que não dorme. As lâmpadas pelas janelas dos prédios e os carros em funcionamento pela noite dentro confirmam isto.

É como a cidade de Nova Iorque imortalizada por Frank Sinitra de quem emprestamos a expressão “cidade que não dorme” Ou “cidade que nunca dorme” dependendo de quem traduz.

Escrevo numa sala, algures  na avenida Domingos Fondo, perto da Assembleia da República. Da Janela vejo gente, carros, barcos e comboios em movimento 24 horas no Porto e Caminhos de Ferro de Moçambique.

Na vizinhança, o motor, de uma vetusta fábrica de sumos, ainda está em funcionamento. Os sumos já não saem. Não sei o que produz já que sobre a fábrica fala-se no passado e na saudade. Ainda na vizinhança, numa sala próxima à minha, um soldador trabalha imparavelmente. Não olha para o relógio. Há dois dias que o soldador trabalha quase interruptamente.

Outra parte de Maputo onde habitualmente não se dorme é na baixa da cidade “onde as mulheres vendem sexo” (como diria na minha paupérrima crónica “A outra carta a Faustina”) ou onde há “… mulheres que vendem os únicos sonhos que têm” de Nelson Saúte, [Maputo, meu amor], textos publicados na desaparecida revista Prooler.

Há também, nas noites de Maputo em insónia, operários dos edifícios em construção que diariamente do solo rebentam como cogumelos.

Existem outro grupo. Seguranças e guardas das empresas e residências. Sem auxílio de café, como acontece nos escritórios, passam a noite em branco. É um ‘’bom pedaço’’ de gente que cresceu ouvindo que é necessário desenrascar para viver. É a maioria numérica, mas minoria em termos de poder. Tais seguranças e guardas também vendem crédito de telemóvel, um serviço extra. Não será Maputo cidade que não dorme?

Desafios actuais

“O olhar andrajoso demora-se nos molwenes. O futuro perturba o velho com a mão estendida à caridade na encruzilhada. Certas mamanas já não sabem inventar esperança para os filhos que choram ao colo. ”

O excerto de texto de Nelson Saúte chama atenção para menores que vivem na rua. Velhos que nos passeios e nos semáforos pedem esmola. E mulheres com crianças e não conseguem sustentar.

Mais, igualmente, as autoridades governamentais devem olhar, com prioridade, para a questão dos transportes públicos que carecem de uma política de gestão mais acertada.

A outra prioridade é referente a (Des) emprego, principalmente para jovens. Saúde. Educação. Enfim, a uma necessidade de olhar mais rigorosidade para alguns aspectos por causa do elevado índice de imigração

Nesta festa dos 132 anos da cidade de Maputo é preciso que “Se preservem monumentos importantíssimos que nos ajudam a ler e compreender a sua história”, Luís Loforte e “Maputo é, acima de tudo, maningue nice.”, Ungulani Ba Ka Khosa.

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