Se Deus escreve o certo em linhas tortas, certamente fê-lo com a França. Aliás, no final da final com a Croácia, Didier Deschamps reconheceu que “foi duro perder o Europeu há dois anos, mas fez-nos aprender”. E é evidente a lição de que fala o técnico gaulês. Afinal, a vitória neste Rússia2018 resulta da renúncia a um estilo de jogo que, no Stade de France, vergou-se aos pés do Catenaccio à portuguesa.
De resto, a final foi o reflexo do que os franceses fizeram no resto do torneio. O zoom da glamorosa presidente croata era mais atraente que o jogo. Um jogo táctico, eivado de erros e sem potencial para provocar paragens cardíacas. Precisamente porque a bola parava mais do que corria. Por inerência, foram as bolas paradas que puseram o placard a “correr”.
Na tribuna VIP, corriam conversas amigáveis entre os presidentes das duas nações finalistas. Estariam, porventura, a conjecturar o estreitamento da cooperação bilateral? Presumamos que sim. Ainda assim, Kolinda Grabar-Kitarović não estaria, decerto, à espera de ver Mandzukic aplicar o hipotético acordo com tanta celeridade. O avançado da Juventus desviou a bola para a própria baliza, colocando França na frente. Foi na sequência de um livre. Um livre que livrou o jogo da letargia inicial, tornando-o menos enfadonho.
Tudo isso sucede ao minuto 18, dez minutos antes de Vida dar a Perisic a possibilidade de devolver os croatas à vida. Desta vez não foi necessário transformar-se num Peribrahimosivic para marcar. Força e colocação foram suficientes para bater Hugo Lloris. E, porque não há antes sem depois, eis que 10 minutos volvidos, o herói vira vilão. O jogador do Inter de Milão faz corte com a mão, e vê a mão…não. Vê, isso sim, o pé pesado de Grieazman castigar-lhe com o 2-1. Subasic não subiu. Estendeu-se para o lado errado e não pôde evitar a desvantagem ao intervalo.
A segunda parte começa com os capitaneados por Modric atrás do prejuízo. Nada que os ponha em pânico. Não estivessem estado em desvantagem em todos os jogos a eliminar neste mundial! Mas desta vez as coisas parecem não ter conserto. Com a defesa da equipa do “Xadrez” desconcertada, a França faz o “xeque-mate”. Finalização exemplar de Pogba. Antes, o passe que lança o contra-ataque é um monumento ao primor.
Corria tudo de feição aos franceses, que estavam cada vez mais próximos do segundo título. E quanto tudo corre bem, a confiança sobe em demasia, provocando, amiúde, erros de palmatória. Ou, talvez não, porque o que aconteceu a meia hora do fim também pode ser entendido como gratidão. Hugo Lloris não terá memória curta e, como capitão, sabe que tem de dar exemplo. Por isso oferece o mais emblemático símbolo da selecção – o galo – a Mandzukic, retribuindo o golo que este oferecera aos “Les Bleus”.
Era o segundo da Croácia. E surge quatro minutos depois do quarto da França, marcado pelo jogador revelação da prova, Kyllian Mbappé, cuja velocidade foi importante para fazer funcionar o cinismo de Didier Deschamps. No fim, houve algumas lágrimas, muita chuva e “abraços molhados”.
Há vinte anos, Deschamps comandava a equipa que despachou o Brasil e garantiu o primeiro título para a França. Agora fá-lo na condição de selecionador, colocando-se ao lado de Zagallo e Beckembauer. É o líder Deschamps. Ou, sumariamente, Lidier Deschampion.
Hugo Lloris tem 20 anos para formar-se como treinador e convencer a federação francesa a contratá-lo. Não é uma boa dica?