O Governo moçambicano criou um projecto e decidiu chamar de Arte no Quintal. Um documento refere que Arte no Quintal surgiu para dar resposta aos artistas sobre a actual situação da COVID-19. Sabe-se que muitos artistas estão sem solução. E no fundo nunca estiveram. A pandemia veio agravar o que estava mal. Os artistas não conseguem vender quadros de artes como antes, os shows foram cancelados, e quase não se fala de lançamento de livro. E parece que o Governo não suportou o silêncio face a impotência em resolver os problemas básicos nas artes e cultura. Um grupo de artistas de Inhambane informou recentemente que estão a enfrentar problemas de fome. A abordagem desta segunda-feira da Kika Materula trouxe mais perguntas, e soluções que, na prática, são superficiais.
Como é que um músico, lá, nos confins de Guijá – Gaza, para não falar de Niassa ou Cabo Delgado poderá fazer eventos online, como indica o projecto Artes no Quintal, se mesmo em Maputo um músico enfrenta problemas de instrumentos. Só para se ter uma ideia? Um microfone básico de qualidade-incluindo suporte, custa cerca de 10.000 MTN. Como é que em Manica, um artística plástico pode expor os quadros via online, se em Maputo, a internet muitas vezes é deficitária? Aqui, não incluímos a questão da tecnologia – de um computador aceitável, telemóveis, que, na realidade moçambicana, poucos artistas dispõem. Estas foram questões que uma bailarina que queria se inteirar do projecto Arte no Quintal colocou ao Canal de Moçambique, em tom de desabafo. A bailarina tinha o interesse de participar na iniciativa.
No dia de lançamento do projecto Arte no Quintal, segunda-feira, a Ministra da Cultura e Turismo não conseguiu responder quais são os critérios para o artista fazer parte da iniciativa. A Ministra da Cultura e Turismo nem teve ideia sobre os artistas que vão fazer parte por província, – num projecto que quer-se nacional.
Mas o que é Artes no Quintal?
Artes no Quintal, de acordo com um documento publicado durante o lançamento do projecto, visa apoiar artistas nacionais. Kika Materula, falando na segunda-feira, reconheceu que actualmente as casas de pasto, casas de cultura, centros culturais, casas de espectáculos e outros espaços públicos não podem operar com normalidade por constituírem focos de propagação da COVID-19.
A Ministra da Cultura e Turismo reconheceu igualmente que o cancelamento de iniciativas culturais e encerramentos desses espaços afecta directamente a produção artística, e consequentemente, a todos os criadores e actores activos na área da cultura à nível nacional, que tiveram planos paralisados devido à pandemia.
Em resposta a esta situação o Ministério da Cultura e Turismo criou o projecto Arte no Quintal. De acordo com Kika Materula, Arte no Quintal consisti na realização de concertos e programas das mais variadas manifestações culturais, ao vivo, com transmissão online. O mesmo será desenvolvido usando o Facebook, o Youtube e o Instagram. Os concertos e programas serão transmitidos aos fins-de-semana.
De acordo com Kika Materula, a iniciativa abrange todas as manifestações artísticas (música, dança, stand up comedy, cinema, literatura, exposição de artes plásticas, moda, vídeo clips). Para reforçar a transmissão de concertos e programas culturais pelas redes sociais o Ministério da Cultura e Turismo está a desenvolver um aplicativo mobile, com conteúdos desta iniciativa que pode ser acedido mediante uma subscrição.
As lacunas do projecto de Kika Materula
‘’Nesta primeira fase, estão programados 12 transmissões de concertos e programas, que envolvem 150 pessoas (músicos, instrumentistas, iluminotécnicos, assistentes de palco, produtores, artistas plásticos, actores, coreógrafos, bailarinos, escritores), das 11 províncias do país’’, disse.
Na ocasião a Ministra da Cultura e Turismo não conseguiu avançar a informação referente a distribuição por província das 150 pessoas ligadas às artes e cultura que serão abrangidas pelo projecto Arte no Quintal. ‘’ De todo o território de Norte ao Sul’’, respondeu numa resposta superficial. Na Resposta da Ministra fica-se sem saber de onde virão os artistas que integram nesta fase, diga-se, piloto.
Muitos artistas muitas vezes reclamam no sentido de que o Ministério da Cultura é um sector parado e que nada faz para o desenvolvimento das artes e cultura. Provavelmente a crise causada pela pandemia poderia ser uma oportunidade para o sector da Cultura e Turismo exibir o que vale. ‘’ Toda a informação está nas capas que foram distribuídas a comunicação social.’’ Respondeu a Ministra a uma pergunta do semanário Canal de Moçambique para saber quem estava em cada província.
Na tal capa, com o título Agenda Cultura e Social, de cima para baixo aparecem os seguintes nomes: Pika Tembe, Between Spaces com Lulú Sala, Sheila Jesuita, Yoka, Miguel Xabindza, Txopito. Esta é a imagem representativa que o sector da Cultura decidiu organizar sobre o país em tempos da COVID-19.
A resposta da Ministra da Cultura e Turismo sobre os critérios de integração pareceu demasiadamente lacónica: ‘’nesta fase estamos a acompanhar com a galeria do Porto de Maputo, estamos a fazer a contribuição e estamos a contar com a colaboração das nossas direcções provinciais, que estão também a fazer. A grande base é aquele mapeamento que foi feito que o Ministério da Cultura e Turismo está a desenvolver neste momento’’, falou. E em seguida uma assessora apareceu para encerrar a conversa da Kika Materula com os jornalistas. E assim terminou o lançamento do projecto Arte no Quintal, no quintal do edifício da Casa de ferro em Maputo, onde havia muita dificuldade de ver representatividades e inclusão nas artes, mesmo usando lupa.
Texto: Canal de Moçambique
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