Jornalismo ao pormenor

Jovens reflectem sobre abstenção eleitoral

Numa ‘’cena informal’’, centenas de jovens reuniram-se no pátio do auditório Carlos Tembe, na Matola, para debater abstenção eleitoral no país. Os participantes reconheceram que não votar não é a penas a pior forma de protestar contra a insatisfação do desempenho do governo e partidos políticos como também constitui um défice de cidadania para esta faixa etária.

A iniciativa da reflexão é do programa Votar Moçambique e visa contribuir para que os próximos processos eleitorais não sejam marcados pelas abstenções, como aconteceu em escrutínios anteriores.

Um relatório de 2016 de Luís Brito, do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), refere que as primeiras Eleições Presidenciais e Legislativas de  1994 registaram uma grande participação dos cidadãos. Mas desde então a participação dos eleitores tem se reduzido, e a partir das eleições de 2004 os níveis de abstenção têm sido superiores a 50%.

Esta situação tem como efeito uma significativa redução de legitimidade da governação.

O inquérito de Luís Brito conclui que em termos sociodemográficos, o primeiro aspecto a salientar é que a abstenção diz respeito particularmente às mulheres e o segundo é que ela afecta principalmente os cidadãos mais jovens. Do ponto de vista sociológicos, quem mais se abstém são os cidadãos menos educados, e que se situam, em termos ocupacionais, nas margens da economia formal, com destaque para os trabalhadores do sector informal e desempregados, seguidos dos camponeses e agricultores.

Em consonância com estes factores, observa-se que quando pior são as condições de vida das famílias, maior é a tendência para a abstenção.

Participaram no evento da iniciativa do programa Votar Moçambique diversos artistas do mundo de rappers incluindo Iveth, Duas Caras, e Nykel. Os artistas sublinharam que chegou o momento de os jovens, que constituem a maioria dos moçambicanos, protestarem a governação através do voto. Os mesmos sublinharam que um número elevado dos eleitores nas urnas podem dificultar as supostas fraudes eleitorais, um dos elementos que desencoraja os jovens para dirigir-se à mesa de voto.

Mensagem dos artistas

O músico Duas Caras sublinhou que iniciativas deste tipo sobre incentivos a jovens para votar deviam começar na família e, principalmente, nas escolas como forma da pessoa crescer com uma cultura da cidadania. ‘’Nas nossas escolas ensinam-nos mais conhecimento europeu que africano ou  local. Eu acho que é hora de os políticos e o governo repensarem no nosso sistema de educação.’’

Depois, o músico Olho Vivo sublinhou que os artistas podem também incentivar os jovens a votar através de mensagens directas e clara,’’Se votarmos muitos de certa forma poderemos automaticamente evitar a manipulação que constitui um dos receios dos jovens uma vez que julga que o voto que efectua não faz diferença.’’

Aquilícia Joaquim, coordenadora do programa Votar Moçambique, referiu estar satisfeita com o debate.

‘’Acho que alcançamos os objectivos porque durante o debate notamos que os artistas conseguiram fazer uma reflexão social e perceberam que, por exemplo nas músicas que cantam não podem apenas passar uma crítica pura e negativa como também devem cantar para engajar no sentido de olhar o lado positivo das coisas, ao incentivar os cidadãos a votarem nos pleitos eleitorais.’’

Com debates e música, este foi o primeiros dos três festivais do Hip Hop e de poesia juntando jovens e artistas nacionais como parte de uma campanha de engajamento aos jovens para que participem nas próximas eleições. Os próximos eventos serão realizados nas cidades de Quelimane e Lichinga agregando artistas das regiões centro e norte, respectivamente.

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