Jornalismo ao pormenor

José Piletiche: o ‘’mestre’’ dos xeque-mate

O Dia Internacional de Xadrez é comemorado todos os anos a neste Novembro, dia 19, data de nascimento de José Raúl Capablanca, um dos maiores xadrezistas de todos os tempos e o único hispano-americano a se sagrar campeão mundial. Em Moçambique, para registar esta data, a redacção de Lupa News interagiu com José Piletiche, um dos maiores xadrezistas do país. Piletiche é também um dos principais impulsionador da modalidade.
Há quase 20 anos que o zambeziano captura o rei dos adversários, ou quando o oponente é suficientemente humilde, faz tombar o rei, um dos principais dados do jogo praticado por dois competidores por partida, onde estes controlam 16 peças, que têm cores diferentes das peças do adversário e podem se movimentar pelas 64 casas do tabuleiro.
No jogo há seis tipos de peças- oito peões, dois cavalos, dois bispos, duas torres, um rei e uma dama/rainha -, cada um com movimentos diferentes dos demais. O objectivo do jogo é capturar o rei do adversário. Isto acontece por meio do xeque-mate, quando o rei do oponente está encurralado e sem possibilidades de fuga.

Nesta situação, o vencedor pode capturar o rei ou o adversário pode tombar a peça, como sinal de desistência. Percebe-se, logo, que xadrez é um jogo de estratégia. Nota-se, também, que não é daquelas modalidades desportivas cujos os jogos se encontram em qualquer esquina a qualquer momento. Não.Jose Piletiche, o mestre de Xeque-mate
As origens de xadrez datam do século VI na Índia, mas sua versão moderna começou a ganhar forma na Europa Mediaval, durante o século XV.
Em Moçambique, província da Zambézia, cidade de Quelimane, bairro Acordos de lusaka ‘’A’’, perto da Mesquita do Cabeça, José Piletiche, nos princípios dos anos 2000 sabia que era raro encontrar jogadores no bairro, muito provavelmente por causa das características da modalidade, sendo necessário localizá-los em pontos bem localizados. 
Nesses princípios anos de 2000, de Quelimane dos tempos do, já agora em retorno político, Pio Matos, as estradas ainda não estavam assim tão pavimentadas, muito menos abauladas, não havia a facilidade dos táxis de bicicletas, deslocava-se, quilómetros, a pé. A pé em longas distâncias José Piletiche caminhava para o interior da zona de Samuguê onde encontrava adversários a altura.

O mestre
Negro de pele clara, estatura média, de personalidade calma, o xadrezista habitualmente trajava calças levezinhas pretas e umas camisas brancas de mangas curtas com riscas quadradas. Seriam camisas de xadrez? Amante de matemática, uma vez, numa noite de 2006, por volta das 19 horas depois de vencer todos os adversários e em todas as partidas disse algo que certamente se lhe perguntassem agora a resposta seria a mesma.
‘’Xadrez é uma modalidade desportiva que envolve e desenvolve o cérebro; é muito bom para as disciplinas de matemática, física entre outras que envolvem cálculo, isto por causa das próprias leis de xadrez que envolvem outros níveis de raciocínio.’’
Na zona José Piletiche era reconhecido como um estudante bom à matemática. Não se sabe se era verdade. Mas fazia sentido. Na noite do último Domingo, falando via telemóvel, confirmou que é docente de disciplina de Matemática em Inhanssunge, um distrito que em relação à Quelimane é como Catembe em relação à Maputo. As duas realidades têm a semelhança de separarem-se das capitais por uma marginal e por um rio.
Num dos encontros, por volta de 2007, no interior do bairro Samuguê, em Quelimane, o xadrezista foi capturando o rei dos adversários. Num jogo de ‘’bate sai’’, o mestre não saiu e ficou alí, derrotando a todos das 17 as 20horas. No final do encontro, partilhou estratégias com adversários, dando a entender que o xadrez cultiva a nobreza de espírito e convivência pacífica entre adversários, recolheu os dados, dobrou o tabuleiro, pôs na pasta como a de James Bond, e despediu carregando seu poderoso rifle – o tabuleiro de xadrez e seus dados.

Uma trajectória repleta de trabalhos e sucessos
Em contacto com a redacção do Lupa News, José Piletiche, um dos xadrezistas notáveis do país, informou que entra na modalidade em 2004 quando frequentava nível médio, na província de Cabo Delgado, região norte, concretamente na cidade de Pemba. Na altura, não existia associação provincial de xadrez. Como uma brincadeira, ele e alguns colegas, começaram a jogar na escola e logo destacou-se juntamente com Apsénio Duarte Canga, um colega com quem viria a fundar a Associação Provincial de Xadrez, em Cado Delgado.
Ao longo desses, quase 20 anos de percurso, desde 2004, José Piletiche detém como momentos marcantes, primeiro quando participa, pela primeira vez, no campeonato de Xadrez em 2005. Em 2005 participa como júnior em representação da província de Cabo Delgado. ‘’Fomos destacados apenas dois jogadores um na categoria de júnior e o outro na categoria de sénior’’, sublinha.
O segundo momento foi quando em 2007 representou a região norte no primeiro campeonato nacional no novo figurino denominado nacional de liga B. A partir deste momento já representava a província da Zambézia, terra natal, e faz parte dos 10 primeiros a participar nessa competição a nível nacional. Ainda como xadrezista da Zambézia participa em vários campeonatos regionais (de Moçambique) e nacionais.
O xadrezista, ‘’o senhor calmo’’ fez parte da primeira equipe que pela primeira vez introduziu o xadrez nos jogos desportivos escolares. Na Zambézia fazia parte da comissão organizadora. Depois, com a existência da Associação Provincial de Xadrez na Zambézia, 2007, mesmo não sendo membro fundador, Piletiche foi eleito Secretário Geral.
Na qualidade de Secretário Geral esforçou-se para a massificação da modalidade na província, criou condições para o lançamento de novos jogadores que venceram os jogos escolares em 2009 em Niassa, região norte, e outros que ainda actualmente destacam-se entre os melhores do país.
Em 2018 em representação da UP – Quelimane, ‘’o mestre’’ participa na COPA das UPs a nível nacional disputada em Manica e leva à vitória a UP, delegação de Quelimane, ao ganhar os dois jogos que disputou.
Se tivesse o poder de mudar o ‘’tabuleiro’’ de xadrez, em primeiro lugar, mudaria a abordagem da modalidade, saindo da cena actual de apenas modalidade desportiva para um novo paradigma em que se explorada todas as potencialidades pode contribuir para melhorar, a discutida, qualidade de ensino no país.
No mesmo plano, valorizaria mais os jogadores aumentando o valor dos prémios, melhorando as condições de treinamento, investindo mais e melhor na massificação e em jogadores menores. Por último, mais não menos importante, abriria academias e incentivaria clubes a agenciar jogadores.

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