Jornalismo ao pormenor

Inatter, irresponsabilidade inebriante

por: Alex Dau

(acontecimento verídico, personagem fictícia)

No dia 13 de Julho do corrente ano, António Galopão deslocou-se a uma das repartições do extinta Inatter, agora Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INATRO) para proceder à renovação da sua carta de condução em vésperas de caducar, eram aproximadamente 10h30, de uma terça-feira do nosso calendário gregoriano.

Uma pequena multidão ocupava de forma desordenada diversas posições no exterior das instalações a espera de ver o seu assunto solucionado.

Dois guardas de uma empresa de segurança procuraram atender este e aquele pedido dos utentes, Galopão  expôs que precisava renovar a sua carta de condução e o guarda solicitou a sua carta e o atestado médico.

“Aguarde, vai ser chamado” – anunciou.

Assim iniciou-se o longo processo de espera, um e outro era chamado para efectuar o procedimento seguinte. Passaram-se horas, só quando eram 14h00 Galopão ouviu o seu nome.

“Senhor a sua carta esta suspensa e deve se dirigir ao 1º andar, porta 13, sector das multas”

Galopão ficou apreensivo, pois procurava ser cidadão exemplar e cumprir com as normas de condução para evitar cair nas malhas das autoridades. Buscou na sua memória se havia alguma multa não paga, a última que tivera, havia pago e o agente da polícia de trânsito o advertiu que devia conservar o recibo para evitar qualquer embaraço.

 Fez-se presente na sala de espera da porta 13 onde já estavam outros que aguardavam a sua vez de ser atendido, não se cumpria com o protocolo sanitário de distanciamento de 1,5 metros.  Só quando eram 14h30 foi atendido pelo funcionário da instituição.

“Quero saber a situação da minha carta” – anunciou temeroso, pois sabia de inúmeras irregularidades que acontecia nesta instituição.

O funcionário pediu-lhe a carta de condução e ele imediatamente entregou-o, este depois de buscar no sistema informático, começou a rabiscar um código referente a multa que devia pagar.

A sua inquietação tornou-se realidade, e Galopāo então perguntou:

“Por favor pode-me dizer que multa é esta?”

“Refere-se a falta de inspecçāo” – respondeu este.

“Falta de inspecçāo, quando e onde foi passado a multa?” – questionou, pois não se lembrava de nenhum evento referente a esse acto.

“Foi passado em Vilanculos na província de Inhambane no ano passado” – respondeu sereno.

“Caro senhor, eu nunca estive em Vilanculos “– respondeu um pouco fora de si.

“Senhor, não sei, é o que esta no sistema” afirmou sereno.

Depois de fazer as suas inúmeras contestações, António pediu que o funcionário imprimisse o histórico da multa para ele poder efectuar a devida reclamação. Este alegou que o sistema não permitia executar tal operação.

Mas o funcionário foi benevolente e permitiu que este lê-se o que o sistema mostrava; qual não foi o seu espanto, quando viu que a foto que o sistema mostrava pertencia a uma outra pessoa.

“Desculpe senhor, mas essa foto não é minha” – disse Galopão completamente fora de si.

“Mas o nome é seu?” – perguntou descontraído.

“O nome é meu, mas a foto não” – respondeu quase aos berros.

“Senhor a multa foi passada em Inhambane, se quiser reclamar tem que ser com as autoridades que passaram que estão em Inhambane”

“Caro senhor, isso é ridículo e injusto” – afirmou completamente irado.

Quando Galopão viu que ficava sem opções, ou pagava a multa para renovar a carta ou então procedia a reclamação e esperava o devido tempo para obter a resposta e durante essa espera não poderia conduzir pois sua carta expirava dentro de dias.

Então optou pela segunda alternativa e depois iria pensar como proceder em relação ao imbróglio protagonizado por estes actores que deveriam servir o público.

Enquanto aguardava os procedimentos subsequentes, viu e ouviu um e outro cidadão a ser humilhado pelos funcionários da instituição por supostamente terem cometido infracções que nem se lembravam ou então eram fictícias, criadas por eles mesmos como era o seu caso.

Por vezes alegam que o individuo ficará inibido de conduzir pela infracçāo que cometera, para deste modo o condutor propor uma negociação para tal não acontecer.

Infelizmente o povo oprimido continua vítima de chacais que vão brotando da pátria, imbuídos nas suas atitudes malignas de ganhar à custa do sacrifício do pacato cidadão, enquanto deveriam ser servidores públicos exemplares.

A plantação de multas no sistema parece ser uma cultura para alimentar os vícios da nova geração de vampiros que povoam o Inatter, aliás, Inatro.

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