Jornalismo ao pormenor

‘’Há razões dessa guerra que nos escapam a todos nós’’: Mia Couto em torno de Cabo Delgado

Numa tertúlia literária com Nelson Saúte, quase sem querer, ambos acabaram por tocar a actual tragédia de Cabo Delgado. O facto aconteceu quando em uma uma pergunta sobre guerra e sonhos o notabilissímo escritor tocou a tragédia de Cabo Delgado e frisou o seguinte: ‘’É importante saber que é um país que nós próprios desconhecemos.’’ Mia Couto respondia a pergunta de Nelson Saúte, uma velha raposa de Jornalismo Cultural, colocada assim: ‘’Achas que Moçambique continua a ser uma terra sonâmbola?’’  ‘’Sim. No sentido bom e mau.’’ Respondeu Mia Couto.

A seguir transcrevemos na íntegra a resposta de Mia Couto: ‘’No sentido bom será o facto de ser uma nação muito jovem, que está constuindo por cima de nações, culturas variadas, diversas, então há aqui desencontros que são históricamente necessárias. Nesse ponto de vista ser sonâmbolo significa não se limitar num retrato definitivo.

Quando a gente fala hoje da guerra no norte de Moçambique. Quanto é por exemplo, para as pessoas do centro e do sul, ou mesmo de Nampula, ou mesmo do Niassa, conhecem realmente o que é aquilo que agente chama Cabo Delgado, do ponto de vista da sua intimidade?

Eu percebo que há razões dessa guerra que nos escapam a todos nós, porque há um sentimento de pertença de algumas pessoas daquela região não se revê em Moçambique. Quer dizer, as pessoas estão tão distantes da ideia da capital de Maputo, do resto do Maputo. Estão muito mais próximas, historicamente de um outro centro, de um outro poder, de uma outra identidade. É importante saber que nós próprios desconhecemos. É importante saber que é um país que nós próprios desconhecemos.’’

O referido encontro, que incluiu transmissão na TVM, redes sociais de Facebook e plataforma Zoom, teve lugar na terça-feira (08 de Setembro), na sequência do lançamento da segunda fase da Colecção Autores Moçambicanos, criada exclusivamente para prover bibliotecas e escolas públicas do país com obras ‘’clássicas’’ da literatura no país ‘’no intuíto de promover o gosto e o hábito pela leitura’’, citamos Nelson Saúte.

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