
Iniciativa visa responder ao défice de mobilidade em comunidades remotas, mas levanta questões sobre segurança e sustentabilidade
O Governo moçambicano está a implementar uma nova abordagem para enfrentar a crise de transporte nas zonas rurais do País: o uso de tractores adaptados como meio de transporte coletivo. A iniciativa, que está a ser pilotada em algumas províncias do centro e norte de Moçambique, surge como resposta à escassez crónica de viaturas de transporte público, sobretudo em distritos com vias de acesso degradadas.
Segundo o Ministério dos Transportes e Comunicações, a medida tem como objectivo imediato assegurar que os cidadãos residentes em comunidades afastadas possam deslocar-se para feiras, hospitais, escolas e outros serviços essenciais. Na fase piloto da iniciativa, os tractores — inicialmente concebidos para fins agrícolas — foram adaptados com reboques e bancos de madeira para transportar pessoas em condições mínimas de segurança.
A medida está a gerar reacções mistas. Para muitos residentes, trata-se de um “mal necessário”. “Antes tínhamos de andar a pé durante quatro ou cinco horas para chegar ao mercado ou à escola. Agora, com o tractor, conseguimos poupar tempo e energia”, contou Maria Afonso, na província de Nampula.
Contudo, especialistas em mobilidade e segurança rodoviária alertam para os riscos associados à prática.
A iniciativa também levanta reflexões sobre a falta de investimentos robustos em transporte rural. Organizações da sociedade civil pedem que o governo vá além de soluções improvisadas e desenvolva políticas de transporte sustentáveis e integradas que respondam às necessidades reais das populações no campo.
Enquanto isso, os tractores continuam a circular, carregando pessoas em vez de colheitas — e revelando, mais uma vez, a criatividade e a resiliência com que os moçambicanos enfrentam os desafios da mobilidade nas zonas esquecidas pelo desenvolvimento.