Jogo de loucos. Jogo de golos. Jogo de emoções fortes. Foi assim de início ao fim. Em Kazan, jogava-se pelo não regresso a casa. Intenção formalmente factual mas materialmente demonstrada apenas pela França. Os franceses não convenceram na fase de grupos, ainda que tivessem garantido a liderança. Os argentinos fizeram pior e a sua passagem aos oitavos só pode ser explicada a luz da metafísica.
Cientes disso, os gauleses tudo fizeram para não serem penalizados pela sorte que bafejou os sul-americanos. Sorte que se arrasta até aos primeiros instantes do jogo desta noite, e que, disfarçada de barra, penaliza Griezman, negando-lhe um golo de livre. Não deu de livre, mas deu de pênalti, arrancado pelo inspiradíssimo Kylian Mbappé.
A partir daí, constrói-se em Kazan uma estrada de sentido único, sempre a apontar para a baliza de Armani. Uma empreitada contrariada aos 44’, com um golaço da Argentina. Tento de Di Maria que leva a albiceleste a um descanso tranquilo e a voltar cheia de graça. Graça confirmada quando Mercado desvia, de forma manifestamente involuntária, um remate de Messi, fazendo o 2-1. La remontada, como sói dizer-se no país das Pampas.
A partir daí, os pupilos de Didier Deschamps deixam-se de contenções e assumem as despesas. Esbanjam classe, técnica, mas não esbanjam oportunidades. É assim que Pavard reestabele a ordem, com um remate absolutamente monumental. Fica na retina a jogada, de apenas três toques, a anteceder a artística finalização.
O meio campo gaulês, com Pogba à cabeça, era uma máquina. Uma máquina que anulava facilmente as tentativas adversárias e, mais do que isso, processava as jogadas mais bem elaboradas. É a qualidade do sector intermediário que conduz o esférico a Mbappé para a nova remontada. Grande finalização do jovem de 19 anos, que esteve em alta rotação. O avançado do Paris Saint-Germain voltaria a aparecer para carimbar a vitória, numa outra jogada de grande nível. Nota para assistência de Giroud, que, não tendo marcado, assinou uma exibição tremenda.
A equipa de Sampaoli perdeu o norte e nem o golo marcado por Aguero, já no fim da partida, serviu de bússola para orientar o colectivo azul-celeste ao empate. Desaire argentino, numa noite
em que Mbappé fez historia, ao tornar-se no jogador mais jovem a bisar num mundial. Se Portugal vencer diante do Uruguai, haverá reedição da final do euro na Rússia. Logo se ve.