Assinala-se nessa sexta-feira (29) o dia mundial sem mundial. E, por ocasião desta efeméride, celebram as “noveleiras” e lamentam os amantes de futebol. Elas vibram como os Panamás desta vida quando fazem os primeiros golos. Pudera, esse interregno é, aos olhas delas – e, já gora, de alguns “eles” – um paraíso fiscal onde criam suas offshores de felicidade.
Paradoxalmente, é um sentimento com sabor agridoce. Um mistério fácil de desvendar, bastando ter mínimos conhecimentos da dinâmica conjugal nacional. Ora vejamos, o mundial é o que tem mantido os homens em prisão domiciliária. E esta paragem, que tem a suspeita particularidade de acontecer na sexta-feira, soa à providência cautelar à favor de sua libertação. E com os amantes de futebol na rua, surge no seio das esposas o espectro das amantes.
Escusado dizer que são suspeitas infundadas, típicas de quem está habituada a fazer tempestades em copos sem água. Os homens nunca se conseguem divorciar da bola, com quem se casam, não em união de facto, mas em união de todos os trajes que a fertilidade do ventre imaginário dos estilistas é capaz de parir. De modo que, não podendo ver futebol, juntam-se e fazem alguma coisa que os mantenham ligados a essa paixão: beber.
Vênia a FIFA! O reinado de Infantino tem sido prenhe em inovações. E vai um “festejo à Maradona” para conservadores que acham que álcool é fonte de problemas. Por alguma razão, as equipas nunca se queixam da cerveja. As queixas de que temos memória estão todas ligadas ao…vídeo-árbitro. Portanto, não façam tempestades em copos de cerveja.
Voltemos ao futebol. Na verdade, à ausência dele e à tudo o que isso implica. Estudos credíveis – não vou precisar porque ninguém ousará duvidar – indicam que, hoje, o PIB per capita de felicidade reduziu em 50% em amantes de futebol. Estes são dados globais. Em África, a estatística é ainda mais assombrosa.
É que, ao contrário dos outros, os africanos não estão a gozar de tolerância de ponto. Estão a gozar de intolerância de ponto, depois de atingirem o ponto maior de intolerância para com o talento. Não deixa de haver, aqui, uma trágica contradição. África é o berço da humanidade e, por esta via, infiro que seja igualmente o berço de tudo a ela associado, incluindo sorte e talento, coisas que teriam sido suficientes para garantir continuidade por terras de Putin.
O problema de África é precisamente aquilo de que os africanos mais se vangloriam. A circunstância de ser Berço em nada tem ajudado ao continente negro. Pelo contrário, só prejudica. O berço, mesmo quando feito de mármore, acaba abandonado com o passar do tempo. O talento e a sorte até podem ter encontrado em África o seu berço. Mas, diante de seu crescimento, o berço perdeu utilidade.
Feitas as contas, não temos nada que nos orgulhar. África precisa transformar-se. Por estas alturas, o ideal é ser cama da humanidade. Ou esteira. Tudo menos berço!