Texto: Egídio Vaz
Informações que disponho indicam que um modista, alfaiate ou estilista, seja qual for o profissional que produzir e vender uma máscara por 80 a 100 meticais estaria a ter um lucro de 100%. Mas, no meio da pandemia global da COVID-19, altura que os moçambicanos deveriam fortalecer a solidariedade tornando acessível a máscara, assiste-se a um outro movimento estranho, o de venda de MARCAS, onerando assim o preço desse trapo útil. Dependendo do “estilista”, as máscaras estão à venda a preços indecorosos, havendo umas a custar até 2 mil meticais cada.
Tenho cá dois assuntos a este respeito:
Primeiro, o decreto de Estado de Emergência estabelece uma arquitectura de monitoria que, de entre tantas tarefas, uma delas é monitorar os preços para evitar especulação e açambarcamento. Assim, julgo que esta arquitectura deveria ter prestado já atenção a esse tipo de especulação desumana, indecorosa e antiética.
Segundo, os dirigentes, nomeadamente ministros e deputados usam máscaras muito caras, não porque sejam mais seguras que outras, mas porque envergam a MARCA dos estilistas. Para começar, é proibido a dirigentes fazer publicidade (comercial), salvo quando se tratar de anúncio de utilidade pública – se na máscara estivesse escrito, “lave as mãos com água e sabão” estaria tudo bem, mas vir lá a etiqueta visível do estilista, não, estamos a falhar. Associado a esse aspecto está a dimensão ética do dirigente. Se dizemos publicamente que as máscaras são trapos acessíveis, devemos prová-lo, envergando-as de modo a passar a mensagem de que sim, essas máscaras acessíveis são igualmente seguras. Ora, se envergam máscaras caras, estão a dar a ideia de que as máscaras “acessíveis” não são seguras, combustibilizando assim a especulação e o açambarcamento. Deixem isso para empresários e outros wanna-be.
Espero ver algo diferente na próxima sessão plenária da Assembleia da República e boletins noticiosos das TVs nacionais.