
Por: David Abílio
Primeira parte da introdução)
Acho que não seria apropriado começar esta comunicação sem nenhuma referência ao grande tema que nos junta aqui: “Nkama wa Ntumbuluku.” Não tenho a certeza se é possível uma tradução deste título. Tempo da Tradição? Tempo da Cultura? Tempo, Tradição e Cultura? Ou seria melhor dizer: “os Tempos da Tradição?” “Os tempos das nossas origens?”, “As nossas origens?” “O nosso percurso histórico?”, “Cultural e histórico?”, “O nosso devir cultural e histórico?” A nossa vida? Nós mesmos? Nós e mais ninguém?
Como vêem, está difícil. Deixem-me, então, sugerir que esta dificuldade de tradução é sintomática da relação entre a vida e a nossa capacidade de dar visibilidade e forma à vida. Viver é uma coisa. Representar a nossa vida é outra. É verdade que podemos usar a língua, para fazer isso. E, na maior parte dos casos, isso até funciona.
Na verdade, se prestarmos atenção às crenças religiosas tradicionais, apercebemo-nos de algo muito interessante: A importância que se atribui aos espíritos dos nossos antepassados mostra que aquilo que não é visível, aquilo que apenas supomos, aquilo, portanto, que ocupa uma boa parte da nossa imaginação, é muito mais importante do que a vida aparentemente real que levamos no nosso dia-a- dia.
Quando tropeçamos e caímos, não é por causa da pedra ou do buraco na estrada que não vimos. É, sim, porque algo invisível e superior à nós e a nossa vontade nos empurrou para essa armadilha. Agora, não digo isto para promover a superstição ou o obscurantismo. Digo isto simplesmente para estabelecer uma relação entre a dança como expressão artística e as coisas essenciais da vida, como a paz e o desenvolvimento.
Com efeito, o que quero dizer nesta comunicação, resume-se precisamente a esta relação: a dança como expressão artística permite-nos dar visibilidade ao invisível e, dessa maneira, trazer-nos de volta à verdadeira essência das coisas.
Vou mostrar nesta comunicação que “Nkama wa Ntumbuluku”, “os tempos da nossa tradição” referem-se à nossa capacidade de reflectir sobre o que fazemos e, dessa maneira, aprender para o futuro.
A dança é o nosso elo de ligação connosco próprios e com os valores que nos devolvem a nossa identidade, num momento em que somos assediados por todo o tipo de tensões. A dança é uma manifestação secular através da qual nos imitamos a nós próprios. Na dança, representamos a nossa vida. (Continua em breve)
*Título da responsabilidade de Lupa News