Um grupo de cientistas da Universidade Bangor, no País de Gales, descobriu uma floresta escondida e virgem no topo do monte Lico, na Zambézia.
Segundo escreve o “The Guardian”, Simon Willcock, um dos pesquisadores que participou da expedição, afirmou que a floresta não foi alterada por humanos e descreveu-a como um lugar único em África.
O local foi descoberto pelo pesquisador Julian Bayliss, da Universidade Oxford Brookes, usando imagens “Google Earth”.
O investigador levou quase dois anos para montar uma equipa de 28 pessoas para a expedição realizada no mês passado. A mesma envolveu a participação de centros de pesquisa, museus, universidades e especialistas em plantas.
Bayliss é conhecido por ter encontrado o monte Mabu, a maior floresta tropical da África do Sul, bem como várias novas espécies de borboletas e outras naquela região.
As florestas tropicais são os biomas vivos mais antigos da Terra e contêm aproximadamente metade das espécies conhecidas. Elas também armazenam grandes quantidades de carbono por mais tempo do que qualquer outro ecossistema vivo.
Algumas florestas tropicais datam da era dos dinossauros, mas praticamente todas mostram sinais de actividade humana no passado.
Para lograr os seus objectivos, Bayliss contratou Jules Lines e Mike Robertson, alpinistas profissionais considerados como dois dos melhores do Reino Unido.
Robertson ficou famoso por escalar a torre Eiffel em Paris, França, em protesto contra a petrolífera francesa Total. Lines, por sua vez, é conhecido por não usar cordas nas suas incursões.
Os alpinistas foram responsáveis por ensinar aos cientistas como subir e descer do monte Lico em segurança.
“Aprender a subir um penhasco de 125 metros na selva é pedir muito às pessoas”, disse Robertson, segurando a corda de segurança para Ana Gledis da Conceição Miranda, uma bióloga moçambicana, de 29 anos, que trabalha no laboratório EO Wilson, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala.
Bayliss acredita que Lico poderia ser uma das florestas mais puras da Terra. Willcock e seu colega, Phil Platts, da Universidade de York, cavaram por dois dias para chegar ao leito rochoso da floresta para estudar as camadas do solo.
“Esta floresta fornece uma visão única sobre os efeitos das mudanças climáticas nas florestas ao longo do tempo”, disse Platts.
Uma das primeiras espécies achadas no monte Lico é uma borboleta. Os cientistas acreditam que esteja longe de ser a única. Há um alinhamento de potenciais novas espécies a serem confirmadas nos próximos meses, entre elas, cobras a rãs, sapos, um anfíbio semelhante a uma serpente chamado ceciliano, musaranho, um roedor com nariz arrebitado, caranguejos e até mesmo plantas com flores.
Catalogando as potenciais novas espécies de peixes, Vanessa Muranga, uma bióloga marinha de 27 anos, do Museu de História Natural de Moçambique, trazia consigo amostras. “É tão emocionante quando você encontra algo que pode ser novo”, disse ela.
O monte Lico também contém outros mistérios, incluindo potes antigos parcialmente enterrados que a equipa descobriu perto de um riacho.
De acordo com a comunidade local, não há relatos de que alguma vez alguém esteve no topo da montanha. Por isso, antropólogos do Museu de História Natural de Moçambique estão a investigar como os potes e outros artefactos teriam chegado ao local.
Na última noite da expedição os cientistas se reuniram em torno de uma fogueira, num acampamento instalado no local, para celebrar o sucesso da pesquisa realizada.
Na ocasião, Bayliss expressou a sua satisfação por todos terem saído da montanha com amostras preciosas. E acrescentou que “é óptimo também que ninguém tenha morrido”.