
Casos de mpox aumentam no Niassa revelando falhas na prevenção comunitária
Subiu de três para cinco o número de casos confirmados de mpox (anteriormente conhecida como varíola dos macacos) no distrito do Lago, província do Niassa. A actualização foi avançada pela governadora da província, Judite Massenguele, durante uma conferência de imprensa realizada no distrito de Sanga, no âmbito da sua visita oficial à região.
Apesar do número relativamente baixo, o aumento de casos num curto intervalo de tempo pode revelar fragilidades estruturais na vigilância epidemiológica e na capacidade de contenção local. A doença, já conhecida em Moçambique desde 2022, voltou a manifestar-se numa zona remota e de acesso difícil, onde os serviços de saúde e a circulação de informação são escassos, criando terreno fértil para a propagação silenciosa do vírus.
Na sua intervenção, a governadora apelou ao reforço das medidas de prevenção, recomendando o distanciamento de pessoas com sintomas suspeitos. No entanto, o discurso oficial continua a depender de recomendações genéricas, sem respostas estruturantes que levem em conta a realidade das populações locais. Muitas comunidades no Niassa enfrentam sérias limitações de acesso à água potável, infra-estruturas de saneamento e unidades de saúde, tornando inviável a aplicação rigorosa das orientações sanitárias.
Além disso, persiste um défice crónico de campanhas educativas consistentes sobre doenças emergentes como a mpox, que continua a ser pouco compreendida pela maioria da população. Falar em “reforço da vigilância” sem garantir recursos humanos, logísticos e financeiros suficientes é repetir o ciclo da improvisação, até que o problema atinja proporções incontroláveis.
O apelo à prevenção é importante, mas o verdadeiro desafio reside na construção de um sistema de saúde pública que seja preventivo, descentralizado e inclusivo. Sem isso, surtos como o da mpox continuarão a ser tratados como expceções episódicas, em vez de sintomas de uma vulnerabilidade estrutural que o país insiste em ignorar.