WWF acusada de financiar patrulhas que torturam e matam caçadores furtivos

A World Wild Fund for Nature (WWF), uma das principais organizações não-governamentais de conservação da natureza, é acusada de financiar guardas militares e grupos paramilitares que torturam e matam pessoas alegadamente envolvidos em actividades de caça furtiva em países africanos e asiáticos.

A WWF, reagindo, disse que vai abrir um inquérito para analisar as acusações e apurar o que aconteceu.

A investigação levada a cabo pelo jornal norte americanos ao longo de um ano revela vários casos. Foram seis países e mais de 100 entrevistas e análise de milhares de documentos, nas palavras dos autores, revelam “danos colaterais” da “guerra global secreta da WWF”.

Um dos casos é revelado por Hira Chaudhary, mulher do agricultor Shikharam Chaudhary ​que terá sido detido e torturado, em 2006, por guardas florestais numa prisão junto ao parque nacional de Chitwan, no Nepal, acabando por morrer. “Eles espancaram-no impiedosamente e puseram-lhe água salgada no nariz e na boca”, contou Hira Chaudhary à polícia, segundo o BuzzFeed.Os guardas acreditariam que Shikharam tinha ajudado o filho a esconder um chifre de rinoceronte no quintal da sua casa e, apesar de não terem encontrado provas, prenderam o agricultor que, nove dias depois, morreu. A autópsia revelou sete costelas partidas e hematomas em todo o corpo, com sete testemunhas a confirmarem que o nepalês tinha sido torturado até à morte.

À data, três funcionários do parque nacional de Chitwan foram detidos e acusados de homicídio. Mas avança o BuzzFeed que a WWF no Nepal, que há muito ajuda a financiar a equipa de guardas florestais e soldados que patrulham aquela área, rapidamente entrou em acção e fez lobbying para que os guardas não fossem a julgamento. O caso foi encerrado meses mais tarde, com a ONG a considerar que esta tinha sido uma vitória na luta contra a caça furtiva, chegando mesmo a contratar um dos suspeitos.

Mas este não terá sido caso único, avança o BuzzFeed, que o considera “parte de um padrão que persiste até aos dias de hoje”, com a WWF a ser acusada de financiar e de fornecer material (incluindo equipamentos de alta tecnologia e armas), formação e salários a grupos militares na África e Ásia suspeitos de torturarem, espancarem, agredirem sexualmente e assassinarem várias pessoas de comunidades indígenas.

Em 2017, avança ainda o mesmo jornal, guardas florestais de um parque fundado pela WWF em Camarões (no golfo da Guiné) terão torturado um rapaz de 11 anos à frente dos seus pais e, apesar de ter sido apresentada uma queixa à organização, a família continua sem resposta. 

A WWF afirma, por sua vez, em comunicado enviado ao BuzzFeed, que não tolera qualquer tipo de brutalidade por parte dos seus parceiros e que foi aberto um inquérito para averiguar os casos denunciados, reconhecendo a “importância de tal escrutínio”. “As violações dos direitos humanos são totalmente inaceitáveis e nunca podem ser justificáveis em nome da conservação”, diz a ONG, garantindo ainda que irá trabalhar junto das comunidades indígenas para garantir que os seus direitos não são violados.

No próprio site da WWF, um porta-voz da organização ambientalista garante que as acusações serão tidas em consideração e solicita ao BuzzFeed que partilhe todas as provas e evidências obtidas para que a organização possa levar a cabo uma investigação própria, conduzida por especialistas em direitos humanos, sobre os abusos agora divulgados.

“Temos políticas rigorosas desenhadas para garantir que tanto nós como os nossos parceiros protegem os direitos e o bem-estar dos povos indígenas e comunidades locais nas regiões onde trabalhamos. Qualquer violação dessas políticas é inaceitável e, caso a investigação revele alguma, comprometemo-nos a agir rapidamente”, explica a WWF em comunicado.

Fonte: Publico.pt

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