Sangue e suor na ressureição Argentina

O rosto de Diego Maradona tem sido a mais fiel descrição do estado do espírito que envolve os argentinos: desolação. Foi assim nos dois primeiros jogos da Argentina no mundial da Rússia.  Ciente disso, mas, sobretudo da importância do embate contra a Nigéria, tratou El Pibe de retirar pressão aos jogadores. Decide, por isso, fazer do seu corpo o porta-voz da descontração. A partir da tribuna VIP, o dono da “mão de deus” baila na companhia de uma dama.

Em campo, soa o sino e o espectáculo inicia. Percebe-se claramente que a selecção das “Pampas” baila melhor do que antes. Não é necessário esforço suplementar para entender porquê. É que Sampaoli terá, finalmente, lido bem de que o “show” precisava e tratou de lançar melhores bailarinos ao palco. Na baliza esta Armani, mas é de facto macaco que os restantes intérpretes estão trajados.

À esquerda surge Di Maria, que acrescenta ritmo a coreografia. Lá atrás está Rojo, cujo os pés definem melhor os passos. No centro do palco, naquele triângulo invertido que forma com Mascherano e Tagliafico, está Ever Banega, que, simplesmente, nega-se a dançar mal. Mais do que isso, define todos os movimentos e obriga todos companheiros a assinarem as pazes com a dança. Graças ao seu tremendo poder de definição, consegue, mesmo que a 30 metros, pôr Messi(14’) a pôr o público argentino em delírio. A coreografia que Messi é obrigado a improvisar envolve toques com joelho e com o pé esquerdos e um toque final com o pé direito.

Era preciso fazer direito as coisas. Sabiam-no todos os argentinos, excepto Higuaim que, a meio da primeira metade do show, perde oportunidade de tranquilizar seus conterrâneos, numa altura em que a turma nigeriana mostrava-se incapaz de abafar os bailarinos mais criativos da “albiceleste”. Isso acontece depois de um dos ferros que ornamenta o palco se ter recusado a conceder a segunda graça a LM10. Seja como for, ao intervalo nota-se que Maradona está mais tranquilo do que é habitual, até porque se dá ao luxo de dormir, provavelmente a sonhar com “favas contadas”. Mas acordou para perder a conta de facas espetadas no peito.

As super-águias voltam melhor sincronizadas. Enquanto isso, os argentinos têm dificuldades de pôr os pés a acompanharem o ritmo. Nessa dificuldade, optam por usar as mãos e os braços. É assim que Mascherano confunde os pares e decide, em zona proibida do palco, abraçar-se a um nigeriano.Inadmissível – porque comprometido -e por, isso, foi punido por Victor Mosés, que, num toque suave, transferiu o delírio argentino para Nigéria e, já agora, para África.

A coreografia sul-americana volta a não sair e esse desacerto tem em Higuaim o rosto mais visível. A seu estilo, o bailarino que brilha em palcos italianos volta a afastar Maradona da euforia. E pior fica o astro quando vê Rojo abafar o elevado ritmo de uma Nigéria em ascensão com recurso ao braço. Para sua satisfação, o júri entende não haver razões para aplicação de qualquer sanção.  Ainda assim, Maradona continua a sofrer. E só volta a sorrir no fim do show, quando Argentina vai ao “Mercado” buscar um passo novo, que pega os africanos desprevenidos e permite que um dançarino menos afamado (Rojo 86’) chegue ao apogeu.

Foi preciso sangue e suor (vide Mescherano) para a albiceleste garantir presença no próximo concerto!

 

 

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