Presidente Nedbank -Moçambique alerta para os efeitos da dependência de importações

Da falta de divisas à Economia em Perigo

Depois de inúmeras  reacções da Confederação das Associações Económicas (CTA), do Banco de Moçambique, e até das gasolineiras (2024 ) em torno da falta de divisas no mercado  finalmente uma instituição bancaria reagiu em torno do problema que que no passado esteve prestes a apagar a economia no País. Nesta terça-feira (04 de Março), O  presidente da Comissão Executiva do Nedbank -Moçambique, Joel Rodrigues, explicou que o problema está relacionado com balança comercial desfavorável de mais importação e menos exportação, e de um contexto internacional em que o País passou a receber menos dólares que entravam através de várias organizações que incluem organizações não governamentais.

Texto: Lupa News

Respondendo a uma pergunta de Lupa News relacionado a falta de divisas no mercado, sobretudo o que é que o Nedbank -Moçambique, como uma instituição Bancária tem a dizer, Joel Rodrigues explicou que Moçambique é um País eminentemente importador.

“Muito daquilo que nós consumimos no dia-a-dia temos que comprar em outros países desde combustíveis até a alguns meios alimentares, os medicamentos que temos que tomar e apesar de termos algumas exportações elas estão muito concentradas em algumas Commodities, portanto, temos muitos postos ao preço dessas Commodities no mercado internacional.”

Esta resposta do  presidente da Comissão Executiva do Nedbank -Moçambique não  é nova. Recentemente a Confederação das Associações Económicas (CTA) partilhou a mesma ideia defendendo que o País precisa de ser mais ambicioso e competitivo, passar a ser mais exportador que importador e, deixar de, por exemplo, importar coisas básicas como penso, óleo, sabão, arroz e até cebola. Voltando a intervenção do dia.

Joel Rodrigues explicou que os Bancos são apenas um veículo de comprar moeda a quem tem moeda e vender moeda a quem tem necessidade de moeda para fazer essas importações e “quando mais se importa  do que se exporta naturalmente vai se sentir sempre um défice.”

Como Banco, “não de forma isolada, mas de forma conjunta, temos que capacitar mais empresas para serem produtivas começar a substituir algumas empresas que temos como produção nacional mas também capacitar mais empresas para termos mais áreas competitivas e poderem exportar os seus produtos para países vizinhos como África do Sul, Zimbabwe, Namíbia.

Só “quando chegarmos a um ponto de equilíbrio é que este tema da falta de divisas será resolvido”.

O presidente da Comissão Executiva do Nedbank -Moçambique apresentou mais um elemento que está a contribuir para falta de divisas no mercado. “Julgo que também Moçambique foi impactado por algumas entradas de moeda que aconteciam anteriormente e que neste momento acontece em menor número. Estamos a acompanhar nas notícias internacionais nomeadamente à algumas moedas que vinham através de entidades sobre a alçada do Governo americano, algumas ONGs, tudo isto influencia a moeda no País se olharmos da dimensão no passado.”

Reacção da CTA

Recentemente, depois de várias interacções e interpelações da CTA, o Banco de Moçambique reagiu na imprensa, com destaque no Jornal Noticias, que os trabalhos preliminares mostravam que os bancos comerciais não estavam a enfrentar dificuldades para disponibilizar moeda estrangeira ao mercado, o que contraria as queixas do sector privado. Na mesma nota, o Banco de Moçambique disse que precisava de números e evidências sobre o assunto, caso contrário, o discurso ficaria vazio.

 A CTA considerou o Banco de Moçambique como “pouco sensível” aos problemas que as empresas, como fazedores da economia, têm enfrentado.

Primeiro, continuou a Confederação, o volume correspondente as operações de permuta de liquidez entre os bancos comerciais no Mercado Cambial Interbancário (MCI), apesar de ligeira recuperação no Quarto Trimestre de 2024 no qual subiu 88%, caiu drasticamente quando comparado com os volumes anuais de 2023 e 2022.

Alias, o volume de operações de permuta de liquidez em moeda externa entre os bancos comerciais atingiu mínimos históricos Segundo Trimestre de 2024, com valor estimado de 5,5 milhões de dólares. Isto, em si, é um primeiro sinal de que liquidez constrangida no sistema.

Segundo, nas operações dos bancos comerciais com os clientes, o volume agregado das operações (turnover) das operações de compra e venda tendeu a aumentar do Primeiro ao Terceiro Trimestre de 2024, tendo crescido cerca de 13%. Desgregando os dados, pode-se perceber que esse crescimento do turnover resultou do rápido aumento das compras de moeda externa dos bancos comerciais aos seus clientes em 18% contra um crescimento menor de 7% das vendas dos bancos comerciais aos seus clientes.

Entenda-se, aqui, que uma compra de moeda externa feita pelo banco comercial ao seu cliente, significa que a liquidez de moeda externa está a sair do cliente para o banco. O contrário, ou seja, saída de liquidez do banco para os seus clientes, significa venda. Assim, tendo as compras dos bancos comerciais crescido mais, em 18%, em relação as vendas aos clientes, então a liquidez ficou entesourada nos bancos comerciais.

As estimativas mostram que em 2024, os bancos comerciais absorveram dos seus clientes liquidez em moeda externa de cerca de 1,8 mil milhões de dólares, de forma acumulada. Refira-se que, o padrão da relação dos bancos comerciais com os seus clientes era diferente nos anos anteriores a 2022, onde as compras liquidas eram bem menores.

Então,” porque os bancos comerciais aumentaram as compras líquidas aos seus clientes?” questionou a CTA para depois responder, no seu comunicado: “A primeira razão, estaria ligada ao comportamento dos passivos e activos líquidos. O que se tem notado, tem sido uma tendência de redução dos activos líquidos.”

A CTA explicou que no mesmo período em que as compras líquidas dos bancos comerciais aos seus clientes aumentavam, os activos externos líquidos dos bancos tenderam a reduzir. Por exemplo, de Novembro de 2023 para 2024 reduziram em 12,8%. Quando se faz a mesma análise num espaço de 2 anos, nota-se que a redução foi mais acentuada, portanto, em 47,5%.

 Esta acumulação de obrigações externas pelos bancos comerciais, conjugada com as limitadas fontes de moeda externa no sistema como é o caso da redução de permuta de liquidez em moeda externa e o fim das intervenções do Banco de Moçambique no Mercado cambial, disponibilizando divisas, levou-os a optarem por aumentar as compras líquidas de moeda externa aos seus clientes. Neste caso, olhar para estas compras líquidas dos bancos comerciais, apenas, como posição cambial positiva pode ser enganadora se não se ter em conta as obrigações para as quais essa posição deve ser aplicada.

Terceiro, continua o documento, para alem das evidencias de que a liquidez em moeda externa não está a fluir dos bancos comerciais para os clientes, a CTA apresentou uma lista de empresas com facturas submetidas aos bancos comerciais para pagamento e que, tais solicitações, não tinham sido satisfeitas. Os valores desta lista apresentada ao Banco de Moçambique estavam estimados em 402 milhões de dólares no terceiro Trimestre de 2024.

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