Moçambique acaba de confirmar três novos casos de mpox (anteriormente conhecida como varíola dos macacos), com origem no distrito do Lago, nos postos administrativos de Metangula e Cóbuè, província do Niassa. A informação foi divulgada pela Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), que garantiu que todos os pacientes se encontram clinicamente estáveis e em isolamento domiciliar. No entanto, o reaparecimento da doença levanta preocupações sobre a capacidade do sistema de saúde em responder a surtos emergentes com agilidade e coordenação.
Esta é a segunda vez que o país regista casos da doença — o primeiro episódio foi em 2022, na província de Maputo, tendo sido declarado extinto poucos dias depois. Contudo, o ressurgimento da mpox numa região distante dos grandes centros urbanos gera alguma preocupação.
Uma equipa técnica do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde (INS) foi destacada para o terreno com a missão de prestar apoio às autoridades locais, monitorar os pacientes, identificar contactos e reforçar a vigilância. Apesar da prontidão comunicada pelas autoridades, as acções parecem reactivas e não fruto de uma estratégia preventiva robusta.
O número limitado de casos não deve ser motivo para complacência. Em África, entre 1 de Janeiro e 8 de Julho deste ano, 22 países notificaram 77.458 casos suspeitos, dos quais 25.831 foram confirmados laboratorialmente, resultando em 501 mortes. Países da SADC como a RDC, Angola, Malawi, África do Sul, Tanzânia e Zâmbia já reportaram casos — o que reforça a urgência de medidas transfronteiriças coordenadas.
A mpox, uma doença zoonótica viral identificada pela primeira vez em 1970 na República Democrática do Congo, manifesta-se inicialmente com sintomas genéricos como febre, dores no corpo e fadiga, evoluindo depois para erupções cutâneas. A propagação pode ocorrer por contacto directo com pessoas ou animais infectados, bem como com roupas, toalhas ou superfícies contaminadas, o que exige práticas básicas de higiene que, em muitas comunidades moçambicanas, esbarram na precariedade do saneamento básico.
O Ministério da Saúde apelou à população para manter a calma e confiar apenas em fontes oficiais de informação, advertindo contra o pânico e a desinformação. No entanto, o desafio maior talvez esteja justamente aí: num país onde o acesso à informação, à saúde pública de qualidade e à resposta rápida a surtos ainda é desigual, garantir transparência e confiança da população continua a ser tão vital quanto o próprio tratamento da doença.