A memória é uma produção humana que ajuda a dar algum sentido a esta existência – que chamamos de vida – e nesse espírito, o escritor Mia Couto resgatou o seu passado, na cidade da Beira para dar corpo ao livro O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS.
O romance, que sai sob chancela da Fundação Fernando Leite Couto (FFLC), foi escrito nos últimos três anos, a obedecer uma necessidade interior de revisitar a infância, disse o autor na conferência de imprensa havida ontem na FFLC.
Escrever este livro, de cunho autobiográfico, prosseguiu, foi trabalhar no tema da memória buscando compreender de que forma ela (s) é fabricada(s) e redesenhada(s), pois, o escritor acredita que “as memórias são sempre inventadas”.
O palco do enredo é a cidade Beira, onde o escritor nasceu e residiu até aos 17 anos, altura em que se mudou para Maputo para estudar o nível superior. “Nós somos, sobretudo aquilo que fomos na infância e adolescentes”, justificou Mia Couto a opção.
A “infraestrutura mapeada” neste livro começa com o resgate da atmosfera de medo e incertezas que tomou o segundo maior centro urbano do país com os relatos de proximidade da guerra de libertação nacional entre 1973 e 1974.
“Foram os anos derradeiros da dominação colonial e a Beira foi surpreendida com a guerra que para eles [os portugueses] era colonial estava a bater a porta, estava próxima, em Inhaminga, em Manica já havia sinais”, situou.
Esses factos, para Mia Couto, cercaram um território fértil para escrever histórias, transformar a realidade em ficção.
Neste romance, disse o escritor, “basicamente está o meu pai, os meus lugares onde me construi e em respeito as pessoas que me ajudaram a recuperar a memória farei o lançamento na Beira”.
O livro será lançado no dia 28 de Outubro, pelas 16.00 Horas, no auditório da Faculdade de Economia da Universidade Católica de Moçambique, na cidade da Beira.
Na tarde seguinte, às 16.30, o escritor participa de uma sessão de conversa e assinatura de autógrafos no Espaço Solange, aberto ao público, respeitando a limitação de espaço imposta pelas circunstâncias da COVID-19.
No dia 02 de Novembro, o livro será lançado, às 18.00 horas, na Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo, em função das restrições que o mundo vive. Depois de publicar O UNIVERSO NUM GRÃO DE AREIA e O TERRORISTA ELEGANTE, este último em co-autoria com José Eduardo Agualusa, Mia Couto regressa ao romance.
O autor, através da sua escrita poética e inventiva, convida-nos, a percorrer os atalhos desta obra, O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS, emprestando ao narrador a voz de um guia habilidoso e surpreendente.
Diogo Santiago, o protagonista principal é professor universitário e escritor de uma brilhante carreira literária que vai ser homenageado na sua terra natal, a cidade da Beira, que vive em alarme sob ameaça de um ciclone.
Na chegada Diogo revive experiências da sua infância e de uma cidade e seus habitantes travestidos, em expectativa crescente e descrente pela visita indesejada de um ciclone que ameaça transformar «o que era pedra em lama», ao mesmo tempo, Diogo convive com a jovem Liana Campos, com incrível e destemida Maniara, com o seu amigo de infância Benedito, hoje dirigente da frelimo.
Adriano Santiago, pai do Diogo, é um poeta e jornalista que, através das suas cartas, o leitor chegará às suas vivências na Beira colonial, passando por Inhaminga debruçada sobre os escombros das duas guerras.