A vida é um estado de direito democrático, porque oferece aos viventes a possibilidade de fazer escolhas próprias. O livre arbítrio é um preceito inerente à existência humana. Os seres humanos podem exercê-lo individual ou colectivamente. Preocupava, porém, que, no âmbito do livre arbítrio, as selecções favoritas se encarcerassem nas grades da apatia generalizada, numa clara reivindicação do direito a desilusão.
As prestações da França, Brasil e Alemanha confirmam o acima exposto. Aqueles de quem mais se espera, têm estado a decepcionar nesta primeira jornada do mundial. Receava-se que a tendência pudesse continuar mas, ao quarto dia de competições, surgiu, finalmente, uma “pessoa colectiva” que abdica do direito universal e naturalmente consagrado ( direito a desilusão) de que os franceses, brasileiros e alemães não quiseram prescindir: a Bélgica.
Nem foi preciso tanto Hazard para que o azar(de) Panamá se confirmasse. E fala-se em azar porque estrear-se na maior prova de selecções defrontando a constelação belga está longe de ser uma fortuna. Ainda assim, o Panamá mostrou-se firme no primeiro tempo, levando a que as autoridades locais ponderassem a possibilidade de alterar o nome para “Panaboa”.
O conjunto sul-americano manteve suas redes invioláveis até ao fecho da primeira parte. Mas partiu para a segunda parte com a concentração partida. E, ai, começou a vislumbrar-se o rumo da partida. Em pouco tempo, gerou-se nos céus de Sochi uma tempestade belga, caracterizada não por chuva, mas por gotas de inspiração.
A primeira (57’) leva o nome de Mertens, e caiu em forma de golaço, levando a que se levantassem milhares de belgas presentes no estádio. Aos 69’ foi a vez de Kevin de Bruyne oferecer golo a Lukaku. Aquele passe mágico, de trivela, é a prova, se dúvidas houvessem, de que Deus escreve o certo por linhas tortas. Que o diga o ponta-de-lança do Manchester United.
De Bruyne voltaria a ser crucial a 15 minutos do fim. O “Rei das assistências” da premier league recupera uma bola na zona defensiva, que passa, de pé para pé, por Witsel e Hazard, antes de Lukaku carimbar o terceiro “BIS” da prova. 3-0.
Num jogo sem grande brilho, foi assim, em inspiração gota a gota, que Bélgica garantiu vitória no primeiro embate do grupo “G”.