Indesejada, negligenciada, limitada : o quanto as mulheres estão longe de vencer na luta de género

Texto: CanalMoz

O relatório sobre a situação da população mundial – 2020 do Fundo de População das Nações Unidas, descreve que em algumas partes do mundo, o nascimento de um menino é motivo de comemoração, por um lado, por outro, o nascimento de uma menina, pode ser motivo de decepção. O documento revela o quanto o mundo, particularmente as mulheres estão longe de vencer a luta a favor da igualdade de género. A tecnologia e a mentalidade em ter um número menor de filhos, se comparado com o passado, são dos elementos que contribuem para a situação que põe a no cenário, diga-se, lamentável.

O organismo da UNU responsáveis por questões populacionais anota que a mulher ‘’pode ser vista como um fardo, um prejuízo, impedimento para o futuro da família. Poderá ser esquecida, ignorada, mal alimentada. Poderá até morrer por negligência. Poderá tornar-se vítima de selecção de sexo pós-natal. ’’

Muito provavelmente para clarificar a questão , o documento de 164 páginas olha para o assunto em uma outra vertente. Na vertente masculina e entende que  a referência por meninos também pode ser expressa por meio da selecção de sexo com inclinação de género: ‘’ a interrupção da gravidez quando se verifica que o feto é feminino; a determinação e selecção de sexo antes da implantação; ou a selecção de esperma para fertilização in vitro,  uma técnica que consiste na colecta dos gametas para que a fecundação seja feita em laboratório e depois na transferência desses embriões de volta para o útero materno.

O relatório lembra que do ponto de vista dos direitos humanos, a selecção de sexo com inclinação  de género é uma prática danosa, pois transforma a preferência por meninos em prevenção deliberada de nascimentos femininos.’’ Indubitavelmente vinculada a normas e comportamentos discriminatórios, é uma consequência maligna da desigualdade de género.’’

‘’Uma preferência profundamente radicada por filhos do sexo masculino continua, e algumas famílias ainda procuram abortar fetos femininos – mesmo que a selecção de sexo por género tenha sido proibida – ou negligenciam a nutrição e a saúde das filhas em favor dos filhos. Após o nascimento, as meninas apresentam taxas de mortalidade mais altas do que os meninos, um indício de que estão sendo discriminadas no tocante aos cuidados,’’ explica.

A pesquisa cuja a pesquisa do campo, incluiu alguns países da África, mas não Moçambique, mostra que  eventualmente os pais preferem uma família com um filho e uma filha, mas o que eles realmente podem preferir é qualquer combinação, desde que tenham pelo menos um filho. Contudo, as respostas de uma pesquisa podem reflectir apenas opiniões, não necessariamente o comportamento real.

Segundo o Fundo de População das  Nações Unidas a selecção de sexo baseada em género tende inicialmente a ser maior entre os segmentos mais ricos da sociedade, mas com o tempo atinge famílias de baixa renda, à medida que tecnologias que facilitam a selecção de sexo se tornam mais disponíveis e acessíveis financeiramente. O número de nascimentos e o sexo de cada criança também podem ser factores a considerar.

Para o documento, em geral, os casais não se envolvem na selecção de sexo baseada em género quando se trata do primeiro filho. No entanto, eles podem optar posteriormente por abortos selectivos em razão do sexo se o primeiro filho for uma menina.

Tecnologia e a tendência de tamanho menor da família, como factores que perigam a luta a favor de género

Com efeito, a preferência por filhos homens e a desigualdade de género implicitamente  são os principais factores da selecção de sexo baseada em género e pós-natal . Contudo, também precisamos levar em conta duas outras condições prévias da selecção de sexo por género: a tecnologia e a tendência de tamanho menor da família.

Tecnologia No passado, os casais que queriam um filho recorriam a métodos como o consumo de alimentos que acreditavam aumentar as chances de dar à luz um menino. Alguns casais com preferência por filhos também praticavam a selecção de sexo pós-natal ao negligenciarem a saúde e a nutrição das filhas ou, em alguns casos extremos, recorriam ao infanticídio feminino.  Ainda no passado, um casal que não conseguia ter um filho eventualmente recorria a medidas como adoptar um menino de um parente ou sequestrar o filho de outra pessoa.

‘’Desde a década de 1960, os contraceptivos modernos – como a pílula – têm desempenhado um papel relevante na manifestação da preferência de alguns casais. Uma vez que um casal tenha tido um filho, eles usam métodos contraceptivos para evitar o nascimento de mais filhos, independentemente de qual sexo essas crianças possam ser). Isso fica evidente devido ao grande número de famílias que têm um menino como último filho’’, explica.

No referente a tecnologia – particularmente a ultrassonografia, desde a década de 1970 a tecnologia  tornou possível conhecer o sexo dos fetos e casais com uma forte preferência confiavam nessas informações para tomar decisões sobre abortar ou levar a gravidez a termo. Trata-se da  ‘’ selecção de sexo com viés de gênero, no entanto, também depende do acesso ao aborto após o primeiro trimestre, o ponto em que a tecnologia de ultrassom pode detectar o sexo de um feto. Em relação ao número de filhos o relatório avança que a tendência de famílias menores no mundo todo, as mulheres estão tendo menos filhos. ‘’Cinquenta anos atrás, uma mulher tinha uma média de cinco filhos. Hoje, ela tem menos de três. Quando o tamanho da família é menor, a chance de os casais não terem filhos homens é maior. Cerca de um em cada quatro casais com duas meninas, por exemplo, poderá recorrer à selecção de sexo por género para evitar o nascimento de uma terceira.’’

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