O tão celebrado projecto Coral Sul, que explora gás natural liquefeito (GNL) na Bacia do Rovuma, rendeu ao Estado moçambicano 210 milhões de dólares no primeiro semestre deste ano, provenientes de impostos sobre a produção de petróleo, petróleo-lucro e bónus de produção. Um número expressivo, no papel.
O anúncio, feito esta semana pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) durante uma visita de jornalistas à plataforma flutuante Coral Sul, foi apresentado como exemplo de “transparência” e “compromisso” com a partilha de informação. O objectivo, segundo o Governo, é “esclarecer” o impacto económico do projecto e reforçar a narrativa de que Moçambique está a beneficiar deste megaprojecto energético.
O secretário permanente do MIREME, António Manda, não poupou palavras para exaltar o Coral Sul como um “marco tecnológico” e um “activo estratégico” tanto para o país como para o fornecimento global de energia. No entanto, o discurso optimista ignora questões centrais que persistem.
Apesar dos milhões arrecadados, o impacto real sobre a vida dos moçambicanos continua limitado. A própria apresentação oficial mostrou que, entre 2018 e 2025, o projecto terá investido apenas 19 milhões de dólares em iniciativas sociais — um valor irrisório quando comparado com os lucros gerados. Além disso, o número de empregos locais gerados pelo projecto permanece modesto: apenas cerca de 300 moçambicanos estão directamente empregados, numa economia com milhões de jovens desempregados.
Com uma produção que já ultrapassa 500 mil milhões de pés cúbicos de gás e com dezenas de carregamentos de GNL a caminho de mercados estrangeiros, a promessa de transformação económica continua distante para a maioria da população. Enquanto as autoridades se orgulham dos “110 carregamentos de GNL e 16 de condensados”, persistem algumas questões: onde estão, de facto, os benefícios concretos para o país além dos relatórios e cerimónias?
Por mais que o Governo insista em vender a ideia de que o Coral Sul representa desenvolvimento nacional, a realidade sugere um modelo que continua a favorecer mais as grandes multinacionais e o Estado — este último, muitas vezes, mais preocupado com a arrecadação fiscal do que com a distribuição justa da riqueza. A visita de jornalistas, cuidadosamente organizada, serviu para reforçar o discurso oficial.