Quando o Estado falha e a fé sustenta a saúde pública. Resta saber se essa pressão encontrará eco no executivo ou se o Hospital de Chicuque continuará a depender da boa vontade da Igreja para sobreviver.
O Hospital Rural de Chicuque, uma das mais importantes unidades sanitárias de Inhambane, está a funcionar, diga-se e pasme-se, não por força de um orçamento do Estado, mas graças ao apoio quase permanente da Igreja Metodista.
A informação não é um rumor nem um desabafo de corredor: consta num documento oficial do partido PODEMOS, ao qual Lupa News teve acesso. O texto, parte de um comunicado de imprensa, resulta de uma visita de fiscalização realizada por deputados da bancada parlamentar do partido à Inhambane, no presente mês de Agosto.
Segundo o relatório, no presente ano de 2025 o hospital não recebeu qualquer orçamento atribuído pelo Governo, o que compromete gravemente o seu funcionamento. Foi o próprio Director-Geral, Arlindo Romão Zunguze, quem confirmou que a continuidade dos serviços essenciais só é possível devido ao apoio logístico e financeiro da Igreja Metodista, que intervém de forma sistemática para colmatar as falhas deixadas pelo Estado.
Quando o Estado falha e a fé sustenta a saúde pública
Num País onde a Constituição garante o direito universal à saúde, é alarmante que um hospital de referência provincial dependa da caridade de uma instituição religiosa para funcionar. Não se trata de um simples “apoio” complementar, mas de uma substituição prática das responsabilidades do Estado, uma situação que expõe a fragilidade da gestão pública e a gritante desigualdade na alocação de recursos.
Durante a visita, os deputados do PODEMOS percorreram os compartimentos do hospital, dialogaram com profissionais de saúde e utentes, e registaram casos que vão desde a falta de materiais básicos até a dificuldades no atendimento materno-infantil.
Um espelho de um problema nacional
Este caso de Chicuque é mais do que um episódio isolado: é um sintoma de um sistema que parece aceitar como “normal” que serviços essenciais sejam mantidos por forças externas ao erário público. Se a tendência se generalizar, estaremos perante uma privatização silenciosa da saúde, mascarada de solidariedade.
O PODEMOS, segundo o comunicado, promete transformar as informações recolhidas em propostas legislativas e exigir transparência e equidade na distribuição do orçamento nacional. Resta saber se essa pressão encontrará eco no executivo ou se o Hospital de Chicuque continuará a depender da boa vontade da Igreja para sobreviver.