Desaparecimento de Dhlakama: o ‘único’ homem que sabia enfrentar a Frelimo

Em muitos pontos de Maputo, a notícia do desaparecimento físico de Afonso Dhlakama, Presidente da Renamo, chegou de surpresa e inacreditavelmente. ‘Dhlakama morreu.’ Diria uma participante de uma palestra algures na Baixa da cidade, depois de ler a mensagem no whatsApp. ‘Mentira.’ Soou uma outra voz, dessa vez masculina, em outro ponto da sala onde acontecia a palestra. ‘Sim… é verdade.’ Confirmaria uma voz, outra voz, e mais vozes por volta das 19:20min, coincidentemente momento do fim da palestra.

‘Dhlakama morreu. Como será o país com a ausência de Afonso Dhlakama?’ A questão dominou a consciência dos participantes enquanto saiam da sala. Primeiro, em monólogo, depois em diálogo.

Da zona do Hotel 2001 à Escola Francisco Manyanga tudo parecia normal. A escuridão embaixo das copas das poucas acácias. Os carros em direcção ao subúrbio. As mulheres de profissão noturna em direcção à Baixa da cidade. Os guardas ‘espectados’ nos portões dos edifícios. O ambiente era o mesmo ao longo da avenida 24 de Julho, nas proximidades do Cenáculo da Fé. Na avenida Eduardo Mondlane, perto da paragem Belita, também normal.

Como os habitantes nos subúrbios receberam e reagiram a morte de Afonso Dhlakama?

Entre Av. Eduardo Mondlane e Marien Nguabi, do Alto Maé à zona do mercado Estrela a agitação era impressionante.

Os guardas dessa zona do prédio escutavam RM e comentavam lamentavelmente a morte do Presidente da Renamo, maior partido da oposição. ‘’Cota Dhlakas’’ Como carinhosamente o chamavam ‘’morreu.’’ ‘’Como é que o cota Dhlakas morre nesse exacto momento em que o país está em crise e nas proximidades das eleições?,’’ gritou um dos guardas em um tom alto para o colega do outro posto, do outro lado da rua, ouvir. Os guardas expressavam as emoções em um sotaque ténue, como se fosse de papel a língua que protegem com os lábios e os dentes. No sotaque dos guardas adivinhava-se serem do Namarrói, Ilé, ou qualquer outro lugar da alta Zambézia.

A morte de Dhlakama era conversa também ao longo da avenida Milagre Mabote. Aqui, depois de atravessar a avenida Joaquim Chissano ao sair de Shoprite, mulheres donas de casa falavam de Dhlakama. A convicção era de 100 por cento, já que recebiam a notícia da TV.

‘’Dhlakama era importante não apenas no Norte (querendo dizer Centro e Norte) mas também aqui no Sul e no país em geral,’’ disse a mulher em conversa com uma amiga. Em seguida, a dispensou porque queria acompanhar todo o Jornal da Noite.

‘’Dhlakama morreu. Estamos mal. Perdemos o único homem que sabia desafiar a Frelimo.’’ Disse um homem num guiché, ainda ao longo da Milagre Mabote, bem próximo da EDM. Durante a noite, toda a programação da STV foi alterada para passar a vida de Afonso Dhlakama.

Hoje, sexta-feira (04), da Praça dos Heróis ao mercado do Vulcano, até bairro Jardim a reacção era a semelhança de ontem anoite. E, diga-se, exagerada. No passeio ao longo da rotunda da Praça dos Heróis um jovem lia uma mensagem em voz alta. Que, diga-se, desumana. ‘’Dhlakama morreu. Não devia ser Guebuza?” Lia-se na mensagem do whatsApp.

Nascido em 1953, o líder morreu ontem, (03 de Maio). Representantes da Renamo já avançaram que Afonso Dhkama vai ser sepultado no distrito de Chibabava, em Sofala, sua terra natal, em data a anunciar.

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