Depois do silêncio institucional e suspeitas de bloqueio, a Solenta Aviation Moçambique confirmou a obtenção do Certificado de Operador Aéreo (COA), última etapa para iniciar voos comerciais domésticos em Moçambique.
Com a licença finalmente nas mãos, a companhia anunciou estar pronta para voar. Mas o mais revelador neste caso não foi a autorização em si, e sim o que ela escancarou sobre a realidade da aviação moçambicana.
O que mais chama atenção é o seguinte detalhe: segundo a própria Solenta, o plano de negócios e o COA tinham sido aprovados ainda em Maio pelo Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). Ou seja, a certificação já estava tecnicamente pronta há mais de um mês, mas curiosamente só foi oficialmente entregue depois que a empresa tornou pública a denúncia de bloqueio administrativo, que envolvia o próprio IACM e o Ministério dos Transportes e Comunicações.
Na altura, a empresa não hesitou em afirmar que havia cumprido todas as exigências legais e técnicas, e pago as taxas, mas continuava sem resposta. A entrega tardia da licença, logo após o caso ganhar repercussão, deixa um incómodo no ar: será que o atraso foi meramente “burocrático” — ou foi um claro recado de que, em Moçambique, não se opera sem o aval de certos interesses invisíveis?
O presidente do IACM, João de Abreu, permanece em silêncio, ignorando as críticas públicas. A ausência de explicações reforça ainda mais a percepção de que o atraso foi deliberado — uma forma de proteger o monopólio da LAM ou simplesmente de lembrar quem realmente manda nos céus moçambicanos.
Enquanto isso, a Solenta já posicionou três aeronaves Embraer 145 no país e firmou acordos com empresas locais para serviços de apoio. Tudo pronto, como esteve há semanas.
O episódio da Solenta não é apenas sobre uma licença; é sobre um sector que ainda precisa romper com o seu passado de privilégios, favores e de um sistema aéreo onde o verdadeiro voo só acontece depois da autorização política.