Chegada massiva de deslocados agrava crise humanitária em Cabo Delgado

 

No último sábado (17 de Outubro), cerca de 20 embarcações chegaram na Praia de Paquitequete, na Cidade de Pemba, transportando centenas de deslocados que fugiram dos ataques em Mucojo, no Distrito de Macomia. “Depois dos ataques da semana passada, as pessoas fugiram de Mucojo para a Ilha Matemo. Mas a falta de assistência humanitária está a forçar os deslocados a abandonar a ilha e procurar refúgio em Pemba.

Os barcos transportam entre 30 e 40 pessoas. A maioria não conseguiu fugir um único bem”, contou um responsável do Bairro Paquitequete. Devido ao mau tempo registado na tarde de sábado, as autoridades proibiram a saída de barcos da Ilha de Matemo para Pemba, o significando que o transporte de deslocados poderia ser retomado ontem (domingo). Além da falta de assistência humanitária em Matemo, há registo de eclosão de doenças diarreicas que já causaram a morte de pelo menos 10 pessoas. O surto eclodiu há uma semana e há indicação da existência de doentes internados. “Em Matemo não há apoio alimentar, não há tendas para acomodar as pessoas. Há três dias choveu e muita gente passou momentos difíceis”.

 A chegada massiva de deslocados na Cidade de Pemba vai agravar a crise humanitária que dura desde Abril. Com os centros de Metuge sem espaço para mais pessoas, muitos deslocados são acolhidos em casas de familiares e/ou conhecidos, sobretudo no histórico bairro de Paquitequete. Mas há famílias que, por falta de acolhimento, improvisaram pequenas cabanas cobertas de plástico na praia de Paquitequete. São cerca de 50 famílias que chegaram do distrito de Mocímboa da Praia, depois do último ataque de Agosto. “Estou aqui com a minha esposa e três filhos menores. Não temos onde ir. Durante o dia sofremos muito com o sol. E quando chega o período de marés altas, tudo fica alagado. Algumas pessoas são acolhidas nos quintais de famílias que vivem aqui perto e outras passam as noites no centro de saúde até ao fim do período das marés altas”, contou Bacar Mussa, que perdeu a casa e todos os bens em Mocímboa da Praia.

 Estimativas indicam que só na Cidade de Pemba podem estar mais de 80 mil deslocados, a maioria sem assistência humanitária do Governo e das agências internacionais. Aua Ali chegou à Pemba em Setembro, fugindo do ataque terrorista à Ilha Vamizi, um destino turístico de eleição. “Só consegui fugir com os meus filhos menores. Não sei onde está o meu marido, não sei se ele ainda está vivo. Desde que cheguei ainda não recebi nenhum apoio do Governo. Tenho tido ajuda de pessoas. Não tenho para onde ir e não sei como recomeçar a minha vida. Sinto-me abandonada”, explicou Aua Ali.

Texto:  CDD –Centro para Democracia e Desenvolvimento

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