Como se sai de uma relação: Gabriel Muthisse (in Facebook)

A relação que estabelecemos com um cônjuge, com uma igreja, com uma associação ou com um Partido, implica um certo nível de confiança, de empatia e de entrega entre as partes. Se eu fico cinco anos ou mais numa organização, ou com uma companheira, convivo, nesse tempo, com coisas boas e outras menos boas dessas entidades. Elas também são obrigadas a aturar as minhas perfeições e os meus defeitos.
Pode acontecer que, passado algum tempo, eu conclua que há incompatibilidades que tornam a relação pouco sã. Isto não torna as pessoas ou organizações a que estive ligado absolutamente imperfeitas (sendo que eu seria o único prenhe de virtudes). Pessoas honradas, pessoas decentes, sabem como terminar essa relação, com dignidade e com o respeito que valorizem, também, o empenho e o esforço daqueles que tiveram de me aturar.
Não é de gente decente, não é de gente honrada, ir à imprensa e sugerir para o público que o cônjuge ou a organização que, durante cinco anos ou mais, me aturou não serve para nada. E fazer isso num discurso grandiloquente, numa linguagem altaneira, como se eu fosse o último dos puros.
Se a minha igreja está cheia de ladrões, ou se o Deus que evoca não é o verdadeiro, precisei mesmo de dez anos para chegar a essa conclusão? Se o Partido pelo qual eu suei, corri, “dei o litro” durante dez anos tem défice democrático, são necessários dez anos para chegar a essa conclusão?
Quero mudar de igreja ou de Partido? Nada mais legítimo! Se quiser, vou dizer isso ao público. Mas julgo ser de gente decente valorizar o tempo que eu fiquei lá. Posso, por exemplo, começar por referir as coisas boas que encontrei lá. Posso, depois afirmar que, ao longo desse tempo, construí expectativas e encubei utopias e crenças que já não cabem lá. Posso dizer que preciso de outros espaços para perseguir as minhas utopias e as minhas crenças.
Considero pouco decente o que tenho estado a ouvir nas últimas 24 horas. Tenho pena das organizações que receberem esses indivíduos. É como uma mulher (ou homem) que aceita como cônjuge um indivíduo que passa a vida a falar mal do parceiro anterior. Quando se cansar de novo, vai falar mal da(o) actual. (Fim)
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