Uma equipa composta por cerca de 200 cientistas de todo o mundo descobriu 30 novas mutações genéticas relacionadas com a depressão. A doença altamente incapacitante afecta cerca de 14 por cento da população mundial em algum momento da sua vida e apenas metade dos doentes responde positivamente aos tratamentos existentes. Em África, a depressão e o stress colocam Moçambique com a taxa mais elevada de suicídios ao nível de continente. São 17 suicídios em cada 100 mil habitantes.
Num artigo científico publicado na revista Nature Genetics, quinta-feira, (26) uma equipa de cientistas revela que 44 zonas do nosso genoma podem estar associadas à depressão, 30 das quais agora descobertas. Estes resultados podem ser usados para, no futuro, melhorar ou descobrir novos tratamentos para esta doença. A descoberta resulta do que é considerado o maior estudo sobre a influência da genética na depressão.
Estudos anteriores já tinham descoberto 14 variantes genéticas associadas à depressão. E investigações em gémeos também mostraram que 40% da variabilidade no risco de depressão também pode resultar da genética.
Mas os cientistas queriam ir mais além. Por isso, cerca de 200 investigadores de todo o mundo reuniram-se no Consórcio de Genómica Psiquiátrica para concretizar esse objectivo, num estudo liderado por Patrick Sullivan (do Instituto Karolinska, na Suécia) e Naomi Wray (da Universidade de Queensland, na Austrália). Usando sete bases de dados diferentes, a equipa analisou dados de cerca de 135 mil pessoas com depressão e mais de 344 mil de pessoas sem a doença.
Percebeu-se então que há no genoma humano 44 variantes genéticas que estão significativamente associadas à depressão. No mesmo estudo também se confirmou que o giro do cíngulo anterior e o córtex pré-frontal são as regiões do cérebro mais envolvidas no desenvolvimento desta doença.
Concluiu ainda que a depressão partilha zonas do genoma que também estão associadas à esquizofrenia ou à doença bipolar. E ainda se sugere que quem tem um índice de massa corporal mais elevado e um menor nível de educação possa estar mais sujeito à depressão.
“Esta meta-análise da associação de todo o genoma está entre as maiores já conduzidas na genética psiquiátrica e fornece um conjunto de resultados que ajuda a redefinir a base fundamental da depressão”, consideram os autores no artigo científico.. “O estudo ajuda a esclarecer a base genética da depressão, mas é apenas um primeiro passo”, avisa por sua vez Cathryn Lewis, do King’s College de Londres, em comunicado.
A depressão afecta cerca de 14% da população mundial em algum momento da sua vida e apenas metade dos doentes responde positivamente aos tratamentos existentes. Esta doença é ainda uma das maiores causas de incapacidade a longo prazo.
Poderá esta investigação ajudar a resolver esse problema? “Este estudo é decisivo. Compreender a base genética da depressão pode ser realmente difícil. Um grande número de investigadores em todo o mundo colaborou para fazer este artigo científico, e agora temos um olhar mais aprofundado do que tínhamos antes sobre a base desta doença humana terrível e prejudicial”, explica Patrick Sullivan, num comunicado da Universidade de Carolina do Norte, nos Estados Unidos. “Com mais trabalho, deveremos ser capazes de desenvolver ferramentas importantes para tratamento e ate prevenção da depressão.”
Fonte: Público