Nada dura para sempre, já diziam os Dealema. E o dilema maior de Portugal é que o adágio também se aplica a sorte. A fortuna que acompanha os lusitanos desde 2016 desfez-se e deixa a nu o quão Fernando Santos é desafortunado de idéias. Mas para esta eliminatória, valha a verdade, teve uma: Chamar o neto para que o fosse ajudar a carregar as malas de regresso a casa.
Portugal, como todas as nações católicas, celebrou ontem a solenidade de São Paulo e São Pedro. E Não é descabido pensar que o denominador comum das preces lusitanas estivesse ligado ao jogo desta noite. A verdade é que, quando o jogo começou, Fernando não viu santos. Viu autênticos arquitectos da maldade, encarnados, sobretudo, no corpo de Edinson Canani.
As visitas turísticas à torre Eiffel terão feito Cavani ganhar gosto pelas alturas. Não espanta, por isso, que tenha apresentado o projecto de construção de uma ponte em Sochi. As autoridades locais sequer tiveram tempo de apreciá-lo, pois a execução liderada pelo consórcio Cavani-Suarez foi supersônica (foram 7 minutos). Tivéssemos construtores desta qualidade e Maputo-Katembe já estava em funcionamento
O engenheiro vê tudo do banco. Mais do que isso, vê-se obrigado a fazer o que, em mais de dois anos, nunca vimos Portugal fazer: Jogar futebol. Manda João Mário juntar-se a Adrien e William no centro do terreno, transformando o 4-4-2 em 4-3-3. Em razão disso, ganha superioridade numérica no meio campo e ganha todos os duelos. Uruguai, à imagem do seu selecionador – encolhido no banco, à braços com problemas físicos – retrai-se, dando iniciativa a selecção lusa.
Maior posse de bola para os campeões da Europa, com Bernardo Silva muito interventivo. Sem consequências, no entanto. É que a “turma das quinas” nunca foi capaz de encontrar “esquinas” por onde pudesse passar, muito por culpa da consistência defensiva de Godín e Giménez. No primeiro tempo pouco há a assinalar, para lá daqueles remates de Ronaldo e José Fonte, de cabeça.
Ao intervalo, pedia-se um jogo menos aborrecido. Felizmente, a idéia chegou a cabeça de Pepe, que aborreceu os Uruguaios com o golo do empate, aos 54 minutos. A resposta não tardou e chegou em forma de banana de Cavani, que Rui Patrício na foi capaz de descascar. Feito o 2-1, os latinos voltaram a jogar “à portuguesa”, remetendo-se no seu primeiro terço.
Perante a ausência de alguém que pautasse o jogo nas hostes sul-americanas, foi William Carvalho que se agigantou no meio campo. O médio meteu os adversários no bolso e, qual coração, bombeou futebol para aquelas artérias laterais personificadas em Bernardo Silva e Quaresma. E bem se pode dizer que foi uma autêntica quaresma a partida de Portugal. Desprovidos de soluções, limitaram-se a despejar bolas para a área, enquanto Uruguai despejava tempo. Já quase no fim, até podia a equipa de Óscar Tabárez ter feito o terceiro, mas Christian Rodriguez despejou a oportunidade.
Urugai precisou jogar como pequeno para afastar os pequenos. E nem a enorme complacência do árbitro – deu 4 minutos de compensação, mas, sem que nada o justificasse, permitiu que se jogasse quase 6 – foi suficiente para que os portugueses chegassem ao empate. É o fim da sorte. Num outro plano, é o fim do mundial para os fanáticos, que teimam em pensar que futebol se resume à dois jogadores.