Argentina careca de tudo compromete quase tudo

É oficial. E é histórico. Argentina é a primeira selecção a fazer-se a um mundial sem treinador e sem guarda-redes.  Em boa verdade, nem equipa Argentina tem. Tem, sim, um conjunto de turistas que decidiu aventurar-se por terras de Vladimir Putin. Ao que tudo indica, tudo fica a dever-se a um mecanismo de solidariedade da FIFA, que visa permitir que jogadores amadores possam, também, desfrutar da atmosfera do campeonato do mundo.

Amadores, por mais amor que tenham, não vão longe. O narrador da Supersport bem sabe disso, daí ter começado a sua intervenção a falar num tal de “oitavo dias”. Para os incautos, estava Oscar Paul a falar do tempo que dura o campeonato do mundo na Rússia. Mas não. Quem conhece o teor fúnebre desta referência logo percebeu que se tratava de um anúncio apocalíptico.

Alguém tinha deixado de existir. No caso, não exatamente há oito dias, mas há mais tempo. Há dois anos, eventualmente. Futebolisticamente, Argentina inexiste. Por isso mesmo, dos argentinos só se fala bem na vigência dos mercados de transferências na Europa. Aquilo a que hoje se assistiu é a mais inequívoca prova disso. Mas não é qualquer prova. Tratou-se mesmo de um exame.

À partida, causa estranheza a ausência de Dybala no onze inicial, quando se sabia que, depois do empate na primeira jornada, a selecçãoalbiceleste precisava tanto da vitória quanto Trump de sensatez.  Na primeira parte, e apesar da confrangedora tremedeira no sector mais recuado, ainda conseguiu se safar o conjunto de turistas do qual Sampaoli faz as vezes de guia. A segunda, porém, foi reveladora de tudo quanto dissemos anteriormente.

A bem estruturada selecção da Croácia, com um meio campo incansável – com Modric à cabeça – tratou de expor a nu o endereço das maiores das fragilidades argentinas: a baliza e o banco técnico. Caballero, ainda eufórico com as primeiras internacionalizações, decide comemorar oferecendo um brinde a Ante Rebic.  O croata não se fez rogado. Empacotou o brinde nas redes, colocando a Croácia em vantagem. A qualquer momento, poderá o avançado endereçar uma mensagem de agradecimento no instagram.

Em apuros, os sul-americanos jogam cada vez piores. Mas, ainda que se esforcem, não conseguem ser piores que o manequim andante que passeava em frente ao banco de suplentes. A cabeça de Sampaoli é o reflexo do que se passa no cérebro. Dito doutra forma, o cérebro do técnico chileno revela-se careca de ideias. E neste deserto de imaginação, troca Aguero por Higuaim, quando o que faltava a equipa era criatividade, coisa que Banega e Dybala têm, e de sobra.

Quando Dybala é lançado, para o lugar de Enzo Perez, sobram apenas 22 minutos para o fim da partida. Argentinacontinua partida e a revelar falta de confiança e criatividade, características que apareceram personificadas em Modric quando, de longe, faz o 2-0, a 10 minutos do fim. Desta vez, Caballero é careca de culpas, mas Otamendi , que usa os olhos para marcar o maestro e capitão croata, tem responsabilidades cabeludas.

Daí para frente, os argentinos só se destacaram em gestos anti-fair play. Os latinos até tiveram em cima da mesa, melhor, nos pés de Meza, a possibilidade de reduzir a desvantagem,mas nem o apoio de Maradona foi capaz de os inspirar. Que falta faz, por estas alturas, a mão de deus! Para piorar, El Pibe ainda foi obrigado a ver Rakitic, já no cair do pano, fazer o 3-0.

Vitória histórica da Croácia, já que é a primeira sobre uma selecçãosul americana, que coloca os capitaneados por Modric – melhor em campo – nos oitavos de final. Derrota vexatória da Argentina, que passa a depender de terceiros para qualificar-se em segundo.

 

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