Por: Laurindos Macuácua
Não. Não podia escrever nada antes. Estava debulhado em lágrimas. Só eu sei o que Chick Corea significou para mim. O lendário pianista e compositor de jazz morreu na terça-feira aos 79 anos, vítima de uma forma rara de cancro. E desde essa maldita terça-feira que oiço repetida e obsessivamente “Spain”, uma das suas mais conhecidas obras. É uma viagem!
Chick Corea foi um senhor! Pianista e compositor, surge entre os precursores do Jazz de fusão, desde o final dos anos 1960, quando sucedeu a Herbie Hancock, nos agrupamentos do trompetista Miles Davis – o grande Miles!-com quem trabalhou num dos mais famosos albuns de Jazz de todos os tempos, Bitches Brew.
Ele trabalhou também com Stan Getz ou Herbie Mann, entre outros músicos que despontaram na emergente cena Jazz de Nova Iorque.
E fundou uma banda que foi uma das mais influentes no cenário Jazz dos anos 1970, os Return to Forever. Era composta por Corea, Stanley Clarke no baixo acústico, Joe Farrell no sax soprano e flauta, Airto Moreira na bateria e percussão e a esposa de Moreira, Flora Purim como vocalista.
Em 1972, a banda grava o álbum Light as a Feather, uma colecção de melodias de Jazz com sabor brasileiro, incluindo novas versões de “500 Miles High” e “Captain Marvel” e ainda aquela que o próprio Corea- e eu- considerava a sua composição mais conhecida, “Spain”.
Pela banda passaram ainda o guitarrista Bill Connors, o baterista Lenny White e Al Di Meola, que mais tarde viria a tornar-se um virtuoso da guitarra jazz.
A sua carreira de mais de meio século, rendeu-lhe 23 prémios musicais Grammy.
Há muito que dizer sobre este senhor. Uma grande perda para os amantes do Jazz. Até que os meus olhos fiquem enxutos, vou ouvindo “Spain”. Este número, em 2004, numa actuação ao vivo em Montreux, levantou multidões. Multidões extasiadas não paravam de bater palmas, de pé, tendo isto durado qualquer coisa como 20 minutos. Era como estar alucinado depois de beber o absinto, a fada verde.