A música moçambicana tem desde a sua emergência enfrentado problemas de diversas temáticas (assim como o faz a música de outras partes do mundo). Mas acredito que o mais crítico e polémico tem sido os últimos acontecimentos. Digo isto porque se voltarmos aos anos 60 para 80 verificamos uma altura (auge da cultura moçambicana) em que o que reinava era a exaltação da cultura moçambicana, nas vozes, seja de Fanny Fumo, Xidiminguana, Majiid Mussa, Zena Bacar, Avelino Mondlane entre outros que de tudo faziam para que a sociedade moçambicana não se esquecesse das suas raízes, formas de manifestação, vestes e acima de tudo o que lhe diferencia do resto do mundo. Era uma época de boa colheita musical.
Quando falo da exaltação da cultura, quero sim dizer que o que mais se notava era uma música virada essencialmente para libertação e educação, não sendo tao notável a “vontade” de os músicos tenderem a internacionalizarem-se (hipoteticamente). Mas o ponto de destaque não são essencialmente os da velha guarda.
Este artigo pretende mexer a ferida que retrocede a cultura, em particular a música moçambicana, olhando para músicos da nova geração, que se tem deparado com desafios, alguns criados por eles mesmos, assim como pela falta, por vezes, de conhecimento sobre a área em que decidem investir. Vamos em pontos?:
Muitos países são conhecidos, maioritariamente, por causa de seus activistas culturais artistas, músicos, cantores que muito elevam a sua bandeira e fazem o mundo ficar tentado em conhecer as suas origens. Não penso que a receita de dar valor a música seja encontrada num génio da lâmpada do Aladim, mas sim através de políticas e estratégias no sentido de tornarà mais efectivo o que é produzido pelos cidadãos/artistas.
Não prevejo um sucesso musical efectivo e firme enquanto como sociedade nos preocuparmos mais em atirar pedras do que apoiar. Poderiam me perguntar se estou a advogar o apoio de produtos de má qualidade. Mas o ponto aqui não é esse. O ponto é pensar em trazer o mau para o bom, é fazer com que as pessoas com dúvidas sobre o que fazem encontrem mais motivos para serem eficazes e proactivos.
A sociedade é, para mim, feita de pensamentos diversos, e não podemos simplesmente pensar na música de forma limitada à velha guarda, já que acreditamos que é nesse período que mais houve produções de qualidade, não que eu duvide.
O ponto é o seguinte: as novas manifestações musicais vêm numa altura em que o mundo se metamorfoseia e precisa ser compreendido em diversas perspectivas. Ignorantes nos tornaríamos se negarmos a evolução das espécies que outrora Darwin falara. O mundo está em constante mudança…os seres humanos…assim como a forma como eles se comportam.
Por exemplo, podemos até considerar um atropelo à língua a forma como os jovens ultimamente escrevem as suas mensagens de texto, de forma resumida (por exemplo vrdde, no lugar de verdade, etc). Mas porque não pensar/reflectir nisso como um avanço linguístico, afinal de contas, a expressão linguística nunca parou de evoluir. Desde a idade de pedra, a extinção (aparente) do latim até a criação de novos idiomas. Mas com certeza que não escrevo este artigo para falar da evolução da língua ou até dar razão a forma “errónea” como se escrevem mensagens (resumidas) nos últimos tempos.
Coloco esta abordagem para fazer perceber que nós definimos como as coisas se devem comportar, o que me faz questionar o porquê de ainda não termos criado um Lionel Richie ou Michael Jackson moçambicano.
Não podemos ser simplesmente consumidores passivos e apreciadores. Discutimos muito sobre a música que esquecemos de fazê-la.
Quando falo de “criação” de um Lionel Richie moçambicano, estou a falar de investirmos em nossos músicos para que estes sejam espelho de seus seguidores, da sua nação, para que o mundo fora reconheça as suas qualidades. Nenhum país vai reconhecer um músico que é rejeitado por sua nação.
Estamos todos dias a exaltar os nomes de diversos ‘’bons’’ músicos, até fazemos festas de homenagens. Mas tais festas de que servem se o tal músico regressa a sua casa e questiona-se, de forma frustrada, porquê não consegue sentir o resultado de todo o esforço que empreendeu na sua carreira.
Existem muitos músicos que precisam de assistência. Alguns, que com idade avançada poderão se ir (permitam-me assim dizer) sem ter deixado um legado tangível a sociedade. Se falo de um legado tangível, falo por exemplo de uma plataforma que se pode construir no sentido de fazer o upload de todos os dados musicais de nossos músicos, afinal de contas, até alguns músicos não conseguem se lembrar da sua primeira gravação, isto porque lhes falta um acervo de conservação dos seus dados musicais que os ajudaria a estarem atentos nas suas actividades.
Os músicos famosos não são só feitos da sua forma de dançar ou vestir, são sim feitos da capacidade de poderem gerenciar a sua carreira. Pode até parecer uma ignorância da minha parte, mas me arrisco fortemente a dizer que 90% ou mais dos nossos músicos não têm um plano de gestão de suas carreiras. Actuam, aparecem nas telas televisivas, mas as coisas terminam por aí, não há um seguimento das coisas. Então me pergunto: O que estaria a falhar.
Será o medo de procurarem pessoas capacitadas a lhes abrir a mente para melhor controlarem o que fazem? Sobre este ponto poderei debruçar mais adiante.
O que deixo ficar antes de entrar nos 22 pecados da música moçambicana, é o desafio de se investir mais nos nossos quadros musicais. Temos muita riqueza musical aqui dentro (Moçambique) que acredito não conseguirmos ver. O importante é sentarmos, fazermos um plano de gestão e abrirmos mecanismos para que exista uma plataforma musical moçambicana onde o mundo todo possa encontrar o seu músico preferido. Meios para fazer essa plataforma? São vários.
Acompanhe, aqui, diariamente a partir de amanhã os 22 Pecados da música moçambicana.