Na segunda-feira passada (24 de Junho) alunos de várias escolas secundárias em Maputo tiveram um encontro com representantes do sector de educação para falarem sobre ‘’os pecados’’ no processo de ensino e aprendizagem. Salas superlotadas, casas- de-banho desconfortáveis, assédio sexual incluíram uma lista longa dos problemas apresentados pelos alunos ao sector de educação na capital do país.
Do lado do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, que organizou o encontro, estiveram presentes Armindo Ngunga, Vice-Ministro da Educação e desenvolvimento Humano, Samaria Tovela, Directora Nacional do Ensino Secundário, Abel Assis, Inspector Geral de Educação, entre outros.
No Instituto Comercial, onde decorreu o encontro, estiveram presentes alunos de mais de 20 escolas secundárias do centro da cidade e arredores tais como Escolas Secundárias de Noroeste 1, Armando Guebuza, Polana, Estrela Vermelha.
O anfiteatro do Instituto Comercial estava completamente ‘’lotado’’ de centenas de alunos que foram alí para apresentarem a versão do processo de ensino que há muito está longe de corresponder expectativas dos moçambicanos, esforço do governo, e necessidade de contribuir para o desenvolvimento do país. No encontro tanto os alunos como os representantes do sector de Educação deixaram claro que reconhecem o ‘’quadro triste’’ naquele que é considerado um dos sectores fundamentais para o desenvolvimento de um país.
Problemas colocados
No encontro com o Vice Ministro de Educação e Desenvolvimento Humano quase todos os alunos, homens e mulheres, colocaram a questão de assédio sexual como um mal que em nada contribui para um ambiente bom em salas de aula. Sobre o assunto, uma das estudantes da Escola Secundária Armando Guebuza disse que os professores conquistam as alunas e estas aceitam para que no fim do semestre tenham boas notas. A mesma sublinhou que o assédio sexual pode terminar quando as alunas passarem a denunciar os professores que aliciam as alunas, cabendo ao sector de educação a capacidade de encontrar mecanismos que também contribuem para acabar com este mal.
Outro assunto colocado pelos alunos foi a superlotação das salas de aulas que para os alunos perturbam o ambiente da sala de aula. Por exemplo, por vezes o estudante não pode se concentrar porque um colega ao lado está a brincar e o professor não tem capacidade de controlar por causa do rácio professor/alunos que é insustentável. No local os participantes reconheceram que existe salas com mais de 100 alunos. Associado a isto está a insuficiência de carteiras.
O terceiro problema relaciona-se com as casas-de-banhos que não contribuem para o bem-estar dos alunos, principalmente das mulheres.
Sobre o assunto, Matilde Moiane, da Escola Secundária Noroeste 1 explicou que muitas vezes tem que recorrer as casas que estão nas proximidades da escola o que é constrangedor.
Ainda sobre as casas de banho, outras vezes quando como última alternativa as mulheres recorrem as casas-de-banho da escola os homens seguem-nas alegando que querem também usar as sanitas quando, de acordo com Matilde, pretendem espreitá-las.
Em conversa com Armindo Ngunga os alunos avançaram, igualmente, o assunto referente as barracas que estão nas proximidades das escolas como um factor que alicia os alunos a comprarem as bebidas. Sobre este assunto estiveram em uníssono os estudantes das Escolas Estrela Vermelha e Noroeste 1, que no passado tiveram a fama de irem embriagados às escolas, uma situação que criou um debate no seio de muitos segmentos da sociedade.
No evento os alunos colocaram, igualmente, os problemas referentes aos professores que chegam atrasados e outras vezes faltam, os que chegam e não explicam. Apenas entram na sala, indicam um aluno para ditar os apontamentos e no final do semestre apenas atribuem notas.
Reacção do sector da Educação
Por sua vez, do lado do sector de educação , os representantes sublinharam estar satisfeitos com a presença e participação dos alunos. segundo os representantes os alunos conseguiram expor as preocupações sem receio.
Armindo Gunga, explicou que Moçambique era o único país da região da África Austral que continuava com o processo de dispensas. Para uniformizar o sector de educação foi obrigado a abolir o processo das dispensas. O Vice-Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano apelou aos estudantes a não se preocuparem com dispensas e a dedicarem nos estudos, ‘’isto permite que no futuro o aluno esteja preparado para o mercado de emprego, que está cada vez mais competitivo’’, sublinhou.
Samaria Tovela, Directora Nacional do Ensino Secundário apelou maior dedicação dos alunos. A mesma mencionou as estatísticas que indicam baixa percentagem no que diz respeito ao desempenho dos alunos.
Sobre as casas -de banho, Armando Mutemba, director adjunto da cidade de Maputo, avançou que o Governo tem reabilitado algumas casas- de- banho das escolas e apelou para que os alunos participem no processo de conservação das mesmas.