A doença de sempre e o remédio que a perpetua
“A sede de vitórias embebeda por completo a mente de Chicualacuala, vedando-lhe a possibilidade de perceber que o imediatismo, tal como as drogas, tem efeitos corrosivos a longo prazo.”
A droga é um caminho irreversível, porque irresistível quando se começa a percorrê-lo. Poucos (dos que a experimentam) escapam à esta regra. E isso acontece porque essas substâncias, uma vez consumidas, têm a mágica capacidade de transformar Maputo em Miami num instante. Sensação prazerosa, mas com pouca esperança de vida.
A sensação de bem-estar proporcionada pelas drogas desaparece à mesma velocidade com que se cria. O que impõe renovação – que passa por nova dose – porque todos gostam de se sentir bem. Assim nasce o vício. E este, ao contrário do “Bem-estar”, tem esperança de vida ao nível de padrões europeus.
Vendo a notícia do afastamento de Leonardo Costas do comando técnico do Costa do Sol, não pude evitar me lembrar do efeito das drogas. É que há disto também no futebol. Os dirigentes são viciados em resultados imediatos e, quando não surgem, injectam uma dose de mudanças técnicas. O efeito é “tiro e queda”. A dose altera a consciência dos jogadores e os põe a carburar.
Seguem-se semanas de delírio colectivo. No auge da “paulada”, chega-se a confundir Taça CAF com Mavila Boy. Mas o efeito é passageiro, numa viagem em que o amadorismo faz as vezes de motorista. Facilmente se percebe – sem ajuda da INAE (Inspecção Nacional das Actividades Económicas) – que a dose tem prazo vencido. E, tendo vencido, já não permite voos altos. Pior, propicia tombos amargos perante visitantes açucarados, para além de perdas de luz frente à fonte de electricidade.
Neste momento de escuridão, a (in)consciência encontra clareza para constatar a inutlilidade de um técnico que, em menos de 04 meses, conquistou só dois troféus. Descobre-se, então, a necessidade de uma nova injecção. Mas a origem suscita desconfianças relativamente à qualidade. Opta-se pelo regresso a um mercado já conhecido, responsável por uma dose que, há bem pouco tempo, mostrou que era capaz de proporcionar grandes voos. Estranhamente, reconheceram-lhe apenas dotes de maquinista. Os CFM agradecem!
A sede de vitórias embebeda por completo a mente de Chicualacuala, vetando-lhe a possibilidade de perceber que o imediatismo, tal como as drogas, tem efeitos corrosivos a longo prazo.
Recomenda-se uma terapia ao presidente dos Canarinhos. Pelo menos até perceber que descobrir a incompetência de um treinador à sexta jornada não é nada mais do que reconhecer um erro de casting por parte da estrutura por si dirigida. Situação que podia ter sido evitada. Bastava “Deixar andar” o projecto liderado pelo melhor treinador dos últimos anos em Moçambique – Nelson Santos, claro.
O Costa do Sol poderá sagrar-se campeão no final da temporada. Ainda assim, esse texto terá sempre mais sentido que esta (i) lógica de gestão.